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O tempo áureo dos carroçadores independentes

  • Zé Miguel
  • 25 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Há muitos, muitos anos, nos primórdios da invenção do automóvel, todos eles assentavam num principio básico : Havia um chassi de ferro, aço, depois alumínio e até madeira, onde se acoplava motor, caixa, eixos, travões, suspensões, etc… e depois havia uma carroceria que se montava por cima. E tudo era feito na mesma Fábrica…

O primeiro construtor a furar este principio foi a sempre futurista Lancia, hoje assassinada, com o Lambda de 1922, que construiu aquilo a que hoje se chama um monobloco, ou seja, uma carroceria que suporta todos os elementos mecânicos anteriormente acoplados no chassi.

As razões pareciam obvias : menor peso, menor custo, melhor desempenho e mais espaço, ainda que a rigidez do conjunto pudesse não ser a ideal mas nesse tempo ninguém sabia o que isso era …

A verdade é que o chassi/carroceria continuou a prevalecer sobre o monobloco, e, podemos dizê-lo, só nos anos 60 o monobloco começou a ganhar terreno, curiosamente primeiros nos States e depois na Europa e no Japão. O paradigma inverteu-se e se hoje ainda se usa o sistema clássico nas pick-ups , o sistema monobloco domina largamente a industria automovel.

Bom, isto parece conversa de encher chouriços, mas leva-me aonde eu quero.

Na super imaginativa Europa do pós guerra, apareceram uns senhores fanáticos de carros, como nós, que resolveram dar um ar da sua graça. Sem meios para produzir um carro de raíz, adquiriam chassis rolantes aos construtores ( com toda a mecânica montada ) e por cima punham as suas próprias carrocerias.Eram os chamados carroçadores independentes, hoje todos desaparecidos neste modelo de independencia, ainda que as “marcas” , pela notoriedade grangeada, ainda sejam usadas por quem as comprou ( normalmente construtores de automóveis ).

Há muitos exemplos desta abordagem, onde os italianos levavam larga vantagem, provavelmente porque deve ser a única língua do mundo onde automóvel é um substantivo feminino – la maquina – o que deve afectar a psique deles...

A mais conhecida deve ser a mítica Pininfarina, que ainda mexe, e que fez carrocerias e desenhos para todas as marcas italianas, e ainda para a Peugeot e GM ( via Cadillac ). https://pt.wikipedia.org/wiki/Pininfarina

Mas tivemos a Vignale que operava a partir de Turim, que faz a sua primeira carroceria para um chassi Fiat Topolino, depois para o Fiat 1100, e participava em projectos mais ambiciosos como o C3 Cunningham, ou para a Ferrari ou a Checoslovaca Tatra. Fez também uma carroceria para um Fiat 1500 que me apaixonou tanto que comprei um em Itália para restauro ( até tinha vidros eléctricos ) que nunca foi terminado …

1953 - Cunningham C3

1951- Ferrari 212 Vignale

1963 - Base Fiat 1500

Em 1969, foi comprada pela De Tomaso, que já tinha outro carroçador – a GHIA – e ambas foram vendidas à Ford em 1973, que descontinuou a operação da Vignale mas continuou a usar a “marca”. Mas podem ver mais em https://en.wikipedia.org/wiki/Vignale

No mesmo modus operandi tinhamos também a italiana já citada GHIA, que fez desenho e carrocerias para Alfa Romeos, Fiats, Fords, VW e até algumas marcas americanas, e cuja história podem ver em https://en.wikipedia.org/wiki/Carrozzeria_Ghia

Um raríssimo Fiat 500 Jojy

O VW Karmann-Ghia

Mas estes “independentes”, cuja base de trabalho eram as carrocerias, também tinha departamentos de desenho e project, desenvolvimento mecânico e mesmo de competição.

Assim, para apimentar estes e outros carros, havia também uns senhores que tratavam de aprimorar a mecânica. Os melhores exemplos serão a Abarth, depois integrada na Fiat e a Autodelta, depois integrada da Alfa Romeo e ambas descontinuadas, embora a marca Abarth ainda seja usada hoje em dia pela Fiat . Também aqui podem ver mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Abarth e em https://en.wikipedia.org/wiki/Autodelta

Mas não resisto a evocar o célebre Alfa Romeo Giulia TZ2, ainda com a mãozinha do mítico e talentoso Carlo Chiti, o ex engenheiro da Ferrari que fundou a Autodelta.

Se as coisas iam bem divertidas em Itália, por terras de Sua Majestade, embora mais tarde, não iam pior. A Ginetta Cars estreava-se com G1, uma carroceria de fibra para montar no Chassi do Ford 8 HP ou 10 HP, e dava sequência com o G2, que incluía o chassi e a carroceria, para neles se montarem componentes Ford ( portanto, uma abordagem em Kit, um bocado diferente ). Com altos e baixos a coisa lá foi correndo e destaco o G33 ( com a mecânica do Rover V8 de 3500 cc, que fazia , em 1992, 5 segs dos 0 aos 100 e que guiei .. ) e o G55, que se vê hoje em dia nas corridas de resistência. Podem ver mais em https://en.wikipedia.org/wiki/Ginetta_Cars

Também havia a Morgan, mas dos triciclos do período entre guerras, não vamos falar.

Foquemo-nos no Model 4/4, com o seu célebre chassi de madeira (!!!) , onde a mecânica podia ser Triumph, Rover ou … Fiat ( quem diria ), Não acreditam ? Aqui está ele …

e tem mais em https://en.wikipedia.org/wiki/Morgan_Motor_Company , e a sua fábrica, que visitei.

Ou a Caterham, que com base no Lotus Seven faz ainda hoje estes brinquedos de 500 quilos, com uma relação peso/potência pornográfica, e mecânicas à la carte.

https://en.wikipedia.org/wiki/Caterham_Cars

Ah ! convém não ter mais de 80 kg e medir 1,75m, caso contrário … não entra, nem brinca ( como eu ) …

Este texto não pretende … quem sou eu ? … ser exaustivo, mas apenas ilustrativo.

Do tempo do chassi rolante que acoplava uma carroceria de “estilista”, envenenada mecanicamente ou não, aos Kits à la cart, o mundo automóvel é um universo maravilhoso para disfrutar e usufruir. Para mim, sempre foi um prazer imenso conhecer esta biodiversidade, e ajudar a manter vivo este eco-sistema de carros a sério, que não foi de todo feito para meninos de calças abaixo da cintura e meninas de salto alto. É a vida. E de preferência, poupem-me aos Suv´s, Croosovers e outras modernices que os gajos do marketing dizem que são boas para nós … e muitos de nós compram, dando-lhes razão.

E deixando as coisas no seu sítio, isto é do melhor que um Homem pode fazer na vida … com as calças vestidas.

Até à próxima, e divirtam-se…

ZMDP


 
 
 

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