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As Crónicas de um Viciado

  • Gonçalo Sampaio
  • 8 de fev. de 2017
  • 2 min de leitura

Numa recente publicidade, uma conhecida marca de carros japonesa refere-se a um dos seus modelos como "o crossover original".

Tretas.

Tamanha treta que me obrigou a falar do segmento mais desprezível no mundo automóvel nas minhas nobres crónicas, onde é frequente ler piadas secas ou relacionadas com pénises. Sim, pénises.

Portanto em vez de falar sobre o Jaguar E-Type, hoje trago-vos o verdadeiro crossover original, um carro feito por uma marca que pertence ao nosso Clube das Marcas Mortas, a American Motors Corporation, AMC. O que quer dizer que não foi preciso chegar o Donald Trump ao poder para os americanos começarem a arruinar as nossas vidas. No início dos anos 80, em plena Guerra Fria, foi lançada aquela que viria a ser a bomba mais devastadora de sempre. A questão é que essa bomba era de facto cool, ou não fosse produto dos anos 80.

O AMC Eagle.

Nada neste carro nos evoca o estilo do Evoque #trocadilhoslife, mas sim de uma Volvo XC70 ou de uma Audi Allroad, num contexto mais prematuro, com menos protecções do cárter e mais altura ao solo. No entanto, um crossover é isto, por definição. Um carro com características de todo-o-terreno.

Mas o Eagle não se ficava pelo ar de rufia, ele de facto sabia andar à porrada. Todos eles vinham equipados com tracção às 4 rodas, ao contrário do Renault Captur que o vosso cunhado levou ao jantar de Natal, e vos fez perceber que a vossa irmã fez escolhas muito tristes na vida.

Desengane-se contudo quem pensar que isto acompanha um Land Cruiser pelo monte fora, o objectivo da AMC nunca foi desenvolver um carro para desfiladeiros, apenas quiseram facilitar a vida de quem sofria com condições climatéricas mais extremas e ficava constantemente atolado ou a fazer piões com o seu Firebird, por mais divertido que isso possa parecer. Tanto que usaram como base outros modelos da AMC, o Concord, Spirit, Gremlin e Sundancer, todos eles por sua vez baseados no Hornet.

E não deixaram a parte da performance completamente descuidada, porque apesar de oferecerem um 4 cilindros nas versões mais básicas, o motor principal que equipou o Eagle desde 1980 era um 6 cilindros em linha 4.2 que produzia uns avassaladores... 110 cavalos. (Americans). Na altura da crise do petróleo, isto eram valores aceitáveis.

Mas houve uma opção de converter o carro para diesel, com um motor fornecido pela italiana VM Motori, que mesmo assim conseguia ser mais potente, não fosse um português querer comprar um.

O Eagle ainda andou em rallies e durou até 1988, tendo sido oferecido com carroçarias de sedan, carrinha, coupé de duas ou três portas, hatchback e até cabrio.

Depois caiu no esquecimento, apesar de ter sido o pioneiro numa moda que viria a mudar completamente o alinhamento das marcas.

Se eu pudesse escolher um, seria um modelo de 1982 para a frente, com a caixa manual de 5 velocidades e o 6 em linha, porque este é um Crossover do qual eu de facto gosto. Não compreendo sequer como é que se pega num conceito interessante como este e se faz a borrada que se vê por aí agora.

Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros


 
 
 

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