GP da Boavista e o WTCC em Vila Real - Um ponto final?
- Texto e Fotos Rúben Teixeira
- 9 de jan. de 2017
- 4 min de leitura
Sou Portuense, nascido em Cedofeita. E amo o desporto motorizado. Por isso o ressurgimento do Grande Prémio da Boavista deixou-me extasiado. A perda do Grande Prémio da Boavista deixou-me muito desiludido.
Toda esta situação foi um enorme novelo de opiniões e acusações e no fim perdeu-se na mesma o traçado e a prova, e nesse mesmo momento a Autarquia de Vila Real e o seu Presidente tiveram um enorme sentido de oportunidade em agarrar o WTCC para o seu burgo, com enorme sucesso. Mas ainda há vozes a favor do Circuito da Boavista. Eu fui uma delas. Houve manifestações, onde eu e muitos amigos nos juntamos no Castelo do Queijo, infelizmente sem efeito.

O ano de 2005 marcou o ano do regresso da prova pela mão de Rui Rio, e em 2007, a visita do WTCC.
Todas as edições um sucesso maior que o anterior, com um traçado muito bom, muito rápido, com o lindíssimo Parque da Cidade pelo meio, com o sol e a praia ao lado, e o Castelo do Queijo e Marginal da Foz a embelezar as redondezas. Direi que dos vários formatos da pista, o que mais me agradou foi o de 2013. Infelizmente a pior alteração foi a chicane adicional que puseram com a chegada do WTCC no fim da Circunvalação ao chegar à "Anémona" pois alguém lá teve medinho de fazer essa recta toda a descer, e ter de travar para uma esquerda de 90º... "if you can´t stand the heat, get out of the kitchen..."

Mas toda a atmosfera era fantástica, o clima fenomenal, até com chuva era bom. Depois vieram as eleições autárquicas, e chegaram os candidatos anti-desporto automóvel, com o cabeça-de-cartaz a ser o Manuel Pizarro, médico, ex-deputado da assembleia da República, ex-secretário de estado da saúde e membro de mais umas quantas comissões e grupos de trabalho governamentais, além de ser um homem ligado ao futebol. Ele expressou directamente a vontade de acabar com o circuito usando o argumento de que não era benéfico à cidade e que era uma ofensa ambiental.
Mas quem ganhou as autárquicas foi o Rui Moreira, que nem comentou muito sobre o Circuito, por isso como foi possível acabarem com o Circuito? Ora, o Sr Pizarro apesar de perder as eleições, recebeu o cargo de Vereador da Câmara, e pronto, fim das corridas... Também o facto de um presidente de um clube de futebol local ser contra as corridas, clube ao qual o Sr Pizarro já esteve ligado, um conhecido empresário do futebol ter uma nova moradia a escassos metros do traçado, e o facto de cada vez mais o traçado chamar mais gente às corridas, gente essa que se não tivesse as corridas para assistir, iam talvez ver outros eventos, não é?...
E vocês agora perguntam: "Mas e a componente ambiental? Isso também foi argumento!" Pois, mas substituíram as corridas na Boavista por corridas de barcos a motores de 2 tempos no Rio Douro... E os motores a 2 Tempos poluem muito, mas muito, muito mais que os motores a 4 tempos...
E essa poluição foi recebida com muito menos público e muito menos interesse mediático.
Mas pronto, é sabido o amor de Rui Moreira pelo mundo náutico, quando na verdade ninguém quer saber da porcaria das corridas de barcos... N-I-N-G-UÉ-M!.

E em termos económicos?
Em várias conversas públicas no Facebook, com o Rui Moreira (ou a sua equipa de assessores) acabaram por confessar que de facto a prova dava lucro, não queriam era dar-se ao trabalho de a fazer. Não se iludam. Estas provas dão a ganhar à cidade. Eu sei o que gastava nos fins de semana dessas corridas. Eu sei quanto os meus amigos gastavam e quanto outros ganhavam. E isso é na economia "real", porque na "macro-económica" (vôos, transportes, hotelaria, publicidade à cidade e País) será igual. Dai terem criado a Super Especial da Cidade do Porto em 2016 com o Rally de Portugal, para voltar a capitalizar na popularidade do desporto automóvel. E esse sucesso, toda a gente pode ver.
Na verdade as únicas pessoas que eram contra o G.P. da Boavista eram os velhos dos tascos e dos clubezecos da bola e sueca ali de algumas ruas de onde passavam as corridas, que só vêem cerveja e Sport Tv à frente dos olhos o dia todo, gente essa que não interessa nem ao menino Jesus.
Agora a grande questão deste artigo: deveríamos continuar a lutar pelo regresso do Circuito da Boavista?
A minha opinião é: Não.
E esta é uma conclusão que me custa assumir, pois sou persistente e acredito que devemos lutar sempre pelo que amamos e acreditamos. E odeio conceder derrota a caciques como Rui Moreira e Manuel Pizarro.
Mas gosto mais do traçado de Vila Real. Os pilotos gostam mais do traçado de Vila Real. Vale pela descentralização que este país precisa, pelo impulso turístico e económico que esta e muitas outras regiões precisam.
Vale pela paisagem do Marão.
O primeiro ano fui como espectador, 2016 fui em trabalho e pude testemunhar a prova de várias maneiras e vários prismas. Só peca por falta de espaço, seja para o público e as suas viaturas, seja para a própria infraestrutura de uma prova com a envergadura do WTCC, pois a área para os fãs na Boavista era gigante, e em Vila Real é pequena, mas esse será a única falha, pois a distancia como já disse, é compensada pela paisagem e pelo beneficio que dá ao Interior.
E só ai, no espaço, é que Vila Real fica a perder para o Porto, o Túnel do Marão encurtou a distancia, tem a sua própria beleza natural para compensar a falta da praia ao lado e ainda temos as velhas estradas do Marão para descomprimir depois das corridas. Acho que é altura de pôr a Boavista de lado, e concentrar esforço para que Vila Real se mantenha e com qualidade, pois já sabemos que a qualquer altura o poder local muda, a FPAK nada faz, e outro interesses atacam.

Em Cima: O enoooorme paddock da Boavista, versus o Paddock e Fan Village em Vila Real. Em Baixo


Perdoem-me quem ainda quer o GP da Boavista, mas concedo que o meu desejo agora é por Vila Real. Espero que entendam o porquê. Espero que entendam que sair aqueles dias do Porto, levar este povo de cá e do estrangeiro a Vila Real é por si só uma vitória contra quem no Porto detesta o automobilismo, pois é da maneira que não lhes enchemos os bolsos, nem os números do turismo que está a descaracterizar o Porto, e que compreendam que perdemos uma batalha, para ganhar esta "guerra"...

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