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Carros de Papel

  • Rúben Teixeira
  • 13 de out. de 2016
  • 7 min de leitura

Já à mais de 6 meses que não escrevia no Vício. Já é muito tempo sem publicar idiotices. O trabalho, dentro e fora da área automóvel têm me tirado tempo para a nossa página, e é por isso que não houve mais Lendas do Paddock, por isso é que o canal de Youtube está parado (minha responsabilidade) entre outras criações da nossa página que estavam na minha tutela, por eu não puder dar o tempo que a página merece, só publicando umas imagens aqui e ali.

Por norma acordo cedo, mesmo cedo. Quando acordo o telemóvel e a tablet estão à mão e quando sento me a tomar o pequeno-almoço o meu hábito é correr todos os meios de comunicação online ligados aos automóveis. Novidades da estrada e da pista, fotos, GIF e vídeos virais. Vejo o que me interessa, e vejo o que seria porreiro para partilhar no Vício. Muito tempo na net e já se conhece muitas das boas páginas online para boa informação.

Em um mundo que já se adaptou à rapidez da Internet, e à sua informação maioritariamente democrática e gratuita, a mesma noticia no espaço de 2 a 3h de surgir já está em todo o lado, o mesmo conteúdo, "moldado" de modo a parecer novo. Por isso de vez em quando, quando nessas manhãs precoces, quando surge algo verdadeiramente novo, é um achado. E eu partilho na nossa página.

No que resulta isto? Já não compro revistas de carros à imenso tempo. Honestamente que não me recordo da última vez. À 15 anos atrás era rotina mensal. E não as deitava fora. Eu tinha cestas de plástico, daquelas de transportar fruta cheia de revistas por debaixo da cama. Chegou ao ponto que tive a difícil tarefa de escolher o que mantinha e deitava fora. E não era só portuguesas, mas espanholas, francesas, inglesas e alemãs, de carros, motas, camiões e TT.

Mas a internet começou a ganhar terreno. Desenvolvia os temas que estas revistas só abordavam de leve. E podia encontrar mais fotos. E depois vieram os vídeos, primeiro de baixa qualidade, 320x240 em formato .wmv.

Só as revistas de conteúdo mais rico é que a inicio sobreviveram, a Sport Auto, Classic & Sportscars, a RaceCar Engineering já tinha passado a formato digital.

Agora nem essas...

E as Portuguesas? Houve a SuperMotores, que era fenomenal, muito bem escrita, por pessoal que parecia saber do que falava, e acima de tudo conduzir os carros ao limite. Admitiam a sua faceta de revista de desportivos. Depois as dos clássicos, que Topos & Clássicos e a Motor Clássico, que por virtude da temática, são sempre interessantes e ricas em temas, apesar de sofrerem de um mal: não sabem cobrir provas, nem presente nem passado, pois perdem-se muitas vezes em detalhes enfadonhos e nas personalidades, em vez de se focarem nos carros e na acção pura. Fora isso, são sempre um prazer de ler e folhear.

A Turbo era "a" revista nos anos 80 e inicio dos anos 90, mas depois esta e todas as outras caíram num "buraco negro" do enfadonho. A Autosport safa-se por ser dedicada quase por completo ao desporto, mas é muito "politica" e às vezes duvido que alguns escribas percebam mesmo alguma coisa de automobilismo, e não sejam estagiários a dar uma mãozinha vindo talvez de outras áreas.

Fora artigos esporádicos, são desinteressantes. O formato delas não é para o entusiasta, mas para o tipo que tem um interesse mediano sobre carros, sem grande profundidade nem cultura. Se forem míopes e estiverem numa banca de revistas na rua e querem distinguir as revistas portuguesas das estrangeiras, mas não conseguem ler os títulos, eu dou-vos a forma certa de escolher as revistas certas:

SUV´s, Crossovers, Hibridos e Dieseis = Revistas Portuguesas

Desportivos e carros cativantes = Revistas Estrangeiras

E este desinteresse causa um efeito de bola de neve: como os temas são cada vez menos interessantes, cada vez à menos compradores, e como há menos compradores, há menos capital para desenvolver temas interessantes. As revistas portuguesas são as rainhas do bocejo. Folhear sem ler e depois servir para limpar os vidros. Diesel, diesel, diesel, diesel, tracção dianteira, SUVS!!!! CrossOvers!!! Hibridos e electricos a torto e a direito. Tudo carros para gente que não gosta de carros.

Solução? Comprar contéudo a revistas estrangeiras. A rainha desta modalidade era a AutoFoco, que à parte de meia dúzia de artigos, era tudo levantado das revistas alemãs. Dai ter sido tão barata. Outras seguem o mesmo padrão, em especial nas novidades, os "scoops". O que é isso? Simples. Há sempre fugas de informação das marcas para fora. Às vezes são acidentais, outras vezes são propositadas. Elas chegam aos ouvidos dos jornalistas sobre um novo modelo. Depois começam a circular as "mulas" aqueles carros de teste camuflados. Esses providenciam como a forma geral do carro será. Depois como o design das marcas hoje em dia é muito previsível, já se sabe como será mais ou menos o aspecto do carro, e seguindo os conselhos dos "chibos" dentro da marca, pedem a um designer gráfico para pegar no Photoshop e criar uma imagem virtual muito aproximada do que o carro novo será. Então a revista publica no seu país e na sua língua e ganha uns cobres a vender a mesma noticia a outras revistas de outros países, Portugal incluído. Nisso as alemãs são especialistas, e tudo o que virem numa revista portuguesa a antecipar um novo modelo, de certo foi publicado umas semanas antes numa revista alemã, francesa ou inglesa.

Estes "scoops" antigamente incomodavam as marcas. Não queriam os seus segredos expostos. Mas com a nova cultura de informação global, notaram que estas antecipações criam interesse positivo na marca e no modelo, e por isso agora simulam fugas de informação antes do lançamento oficial para estimular interesse. Dai agora vermos imagens "leaked" e títulos sensacionalistas tipo "Cairam na net fotos do novo charuto da Marca X antes de ser lançado!!!!" Pois... o mais certo é que foi um blogger qualquer que tem bons contactos dentro do departamento de comunicação de alguma marca que combinou a publicação das fotos num blog ou num fórum qualquer...

Este tema vêm ao de cima hoje porquê? Porque motivo iria eu tirar tempo a meio do dia para escrever um artigo depois de tanto tempo parado?

Bem, a dia 30 de Setembro, acordei novamente cedo, e fui por-me a par das novidades do mundo online. Depois de várias semanas a ver fotos de "mulas" do novo série 5 em testes, todas camufladas, ver até jornalistas a terem acesso a essas mulas antes de o carro ser revelado, vejo uma foto oficial do carro num blog "semi-oficial" da BMW. Foto mesmo. Não fotomontagem, não rendering, foto mesmo. Tirada por um profissional, por meio do Marketing da BMW. Genuíno. Pensei para mim "eles pagam a alguém para desenhar uma coisa tão fraca? parece um design coreano do inicio dos anos 2000..." e depois pensei melhor. "Sempre é o novo Série 5. Acho que os nosso seguidores do Vício dos Carros merecem o privilégio de serem os primeiros a ver o carro como ele vai ser na realidade." E publiquei. Vocês mostraram-se pouco interessados. Eu também não fiquei muito. Como proprietário de um BMW pré-clássico como deve de ser (gasolina, 6 em linha, sem electrónica) acho que o último verdadeiro Série 5 foi o E39. Do E60 M5 só queria o motor, do F10 M5... nem sei... Mas pronto, já havia fotos oficiais, o carro já era conhecido, assunto arrumado.

Para meu espanto ontem acordo e tudo que é publicação está a noticiar uma "fuga de informação"! Que há fotos não oficiais do novo Série 5 antes do lançamento! Páginas inglesas, páginas francesas, alemãs, americanas, holandesas... E a ilustrar uma foto granulada que alguém simulou um corte a um terço da imagem para simular que era algo retirado do meio de um prospecto. Mas como é possível ser uma "fuga" se a marca já deixou circular fotos oficiais? "Estão a gozar comigo?! Fuga de informação?! Já há fotos desde o inicio do mês!" - pensei para mim.

Golpes de marketing... Se calhar alguém na BMW achou que ninguém estava a reparar no carro novo e decidiu re-lançar a "noticia" novamente como um furo jornalístico, ao melhor estilo Correio da Manhã.

Eu não resisti e fiz print screen de tudo, e mostrei ao nossos seguidores que não havia "furo" nenhum. O carro já estava divulgado a 30 de Setembro.

Pois bem. Agora é que as coisas passam de engraçadas a hilariantes... Uma publicação portuguesa sentiu-se incomodada que nós expusesse-mos que afinal já nós tínhamos divulgado o carro no seu estado final 12 dias antes deles mostrarem as imagens granuladas, e publicou na página deles que, eles sim tinham divulgado o carro em Agosto! Os seus leitores viram primeiro! O que eles publicaram foi sim os Photoshops comprados às publicações alemãs que são MUITO PRÓXIMAS do produto final, mas NÃO SÃO MESMO UMA FOTO DO CARRO REAL. E não publicaram esse post uma vez. Publicaram 3 vezes... Isto mostra o quanto o Vício dos Carros incomodou.

A falar com o Hélder e com o Gonçalo rimo-nos muito. Sejamos sinceros, somos uma mosquinha no universo das informação automóvel. Não temos lucro com isto, não temos manancial técnico, não temos os contactos nas marcas. Quando conseguimos golpadas como obter fotos exclusivas antes dos outros, temos de capitalizar isso. Sucedeu como já mencionamos com o Civic Type R e com o concept da BMW, o 2002 Hommage. Este último não havia mais nenhuma página no Facebook com este carro, somente nós e a página de fotografia que partilhou connosco, nem mesmo a própria BMW tinha imagens online dele.

Por isso quando uma publicação de grande tiragem e de nome vê-se incomodada ao ponto de repetir o mesmo post 3 vezes em mais ou menos 12h para provar que eles é que falaram primeiro do carro, nós sentimos bem connosco. É divertido para quem faz isto como passatempo.

De facto não sabia que eles tinham falado do carro em Agosto, ilustrando o artigo com foto-montagens feitas a partir de outros modelos da marca, de modo a aproximar-se ao que irá ser na realidade.

Não sabia porque já não compro revistas. Já poucos compram. As capas e os temas são sempre os Dieseis, os Hibridos, os SUVs/Crossovers, os utilitários, os falsos desportivos, e todos eles pejados de ajudas às electrónicas que ao entusiasta só atrapalham em vez de ajudarem. Isto afasta tudo e todos. Eles dirão que publicam o que o mercado vende. Esquecem-se é que eles não estão no mercado automóvel. Estão no mercado das revistas de carros e é isso que têm de cativar o público a comprar, não os carros que publicam. E ao contrário dos livros, as revistas julgam-se pela capa, se só vejo carros aborrecidos, não vou esperar encontrar carros interessantes dentro.

As revistas de outras áreas publicam o que mexe com a emoção de quem as procura. Pensem da seguinte forma: as revistas de meninas não publicam a dona de casa que cozinha bem e será excelente mãe, mas sim a miúda bombástica de trajes curtos. É isso que queremos nos automóveis.

E talvez para a próxima vez que encontrar uma novidade, saberei se alguém já falou na imprensa escrita antes.


 
 
 

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