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As Crónicas de um Viciado

  • Gonçalo Sampaio
  • 16 de ago. de 2016
  • 4 min de leitura

Para quem gosta de carros, esta é sem dúvida alguma uma excelente altura para se estar vivo.

Por um lado, temos um movimento purista a fazer de tudo para lançar os melhores carros do mundo com caixas manuais, cada vez com mais potência e mais eficazes, deixando o prazer de condução exactamente onde ele deve estar, no pé esquerdo e na mão direita. Ou na mão esquerda, se formos aos países onde Sua Majestade exerceu mais influência. Por outro, temos os hipercarros, os eléctricos e híbridos, os gritos da tecnologia robotizada e automática, para os tecnocratas se deliciarem.

Pessoalmente não me podia estar mais a marimbar para este segundo paradigma, mas o que é importante é referir que hoje em dia há um pouco de tudo para todos os gostos, de quase todas as marcas, com a vantagem de termos todo um historial de passados modelos brilhantes à mão de semear no mercado de usados. Tirando o facto de andar tudo sobrevalorizado como a merda. Já viram os preços dos VTI's hoje em dia? Não vejam.

De qualquer forma, uma das grandes razões para se ser feliz hoje em dia no mundo dos carros é o facto de - e vou arriscar dizê-lo - a Alfa Romeo estar na moda.

Graças a nós, aqui no Vício dos Carros, obviamente, com a nossa campanha "todos os dias são dias de 75", mas também porque aquela gente lá em Itália decidiu que tinha de fazer o melhor carro de 4 portas que o dinheiro pudesse comprar, e fizeram-no, com o nome de um antigo melhor carro de 4 portas que o dinheiro pôde comprar, o Giulia.

Para quem acabou de acordar, o Giulia é uma berlina de tracção traseira com uma caixa manual de 6, ou automática de 8 velocidades e motorizações que incluem um 2.9 V6 de 510 cavalos, que lhe permitiu conquistar o lugar de sedan mais rápido a dar a volta ao mítico circuito de Nürburgring Nordschleife, e já se prepara para ir lá outra vez reclamar esse lugar que entretanto foi ocupado por um Porsche Panamera.

Este é o resultado daquilo que a Alfa consegue fazer quando se dedica 100% a fazer um carro em condições, em vez de lançar um chassis da Fiat coberto por uma carroçaria linda e interiores quase eróticos. O Giulia é porno mesmo.

O que me leva ao carro do qual vim falar hoje.

A meu ver, este foi o último modelo feito com pés e cabeça pela marca de Arese antes do Giulia, um carro com a configuração e potência necessárias para rivalizar com a concorrência e se manter relevante para tempos vindouros. O Alfa Romeo 164 Q4.

Este foi o culminar de um carro que, por si só, já era muito bom, mas que poderia lucrar com o envio de alguma potência para as rodas traseiras, e foi precisamente isso que lhe fizeram com o Q4, deram-lhe um sistema super avançado de tracção integral chamado "viscomatic", desenvolvido em conjunto com a Steyr-Puch, que permitia que, em certos momentos, a potência fosse transmitida a 100% para as rodas dianteiras, ou traseiras, mediante as condições de condução praticada.

O carro era caro e raro, mas quem tiver a sorte de ter um, pode disfrutar de um V6 3.0 de 230 cavalos, atmosférico, ligado às 4 rodas através de uma caixa manual de 6 velocidades da Getrag.

O mesmo motor, com dois turbos, produzia 400 cavalos no protótipo Scighera.

Por fora, vinha equipado com as mesmas jantes Speedline "teledial" de 16 polegadas do SZ e as saias desportivas do QV, que era exactamente o mesmo carro, mas só com tracção dianteira.

E o que é que eu quero dizer quando afirmo que o 164 "já era muito bom"? Bem, este foi o último Alfa Romeo projectado pela Alfa Romeo pré-Fiat, mas foi desenvolvido já após a aquisição da marca pelo gigante italiano, o que, por outras palavras, quer dizer que foi um Alfa independente feito com dinheiro da Fiat, por isso não se poupou em nada. E para um carro que rivalizava com o Mercedes-Benz W124, a engenharia tinha mesmo de ser posta à prova.

E foi. O 164 sofreu longos e extensos testes à sua robustez, desde um teste de 4 milhões de kms feito por robôs, a viagens entre a Lapónia e Marrocos, e violentos testes de performance, segurança e conforto. O 164 foi um Alfa fiável, competente e rápido, que apenas requeria alguma atenção nas versões turbo e nos V6, a nível de mudanças de óleo e correias, mas pouco mais. Os Twin Spark eram tanques e todas as versões do 164 ultrapassavam os 200km/h.

Existem registos de alguns problemas electrónicos neste carro, mas eram normalmente causados por negligência, como o derramamento de líquidos na consola central, por não haver um suporte para bebidas no meio.

Portanto se o 164 era uma berlina executiva de tracção dianteira brilhante, o Q4 era melhor ainda, e até hoje me dói muito na alma não ter comprado um que uma vez andou à venda em Portugal.

Depois deste carro o último grande Alfa de 4 portas com o V6 "Busso" foi o 156 GTA, mas esse nunca teve tracção integral, fazendo do 164 Q4 o último Alfa mesmo Alfa completamente nobre, e é por isso que merece um artigo dedicado a ele.

Como se tudo isto não fosse suficiente, tem uma carroçaria assinada pela Pininfarina.


 
 
 

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