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As Crónicas de um Viciado - Carro de Fuga

  • Gonçalo Sampaio
  • 7 de abr. de 2016
  • 3 min de leitura

As marcas chamam-lhes executivos, segmento "E", mas eu penso neles como carros de fuga. Não apenas no sentido tradicional de carro usado para fugir à polícia após assaltar um banco, ou a um bando de mafiosos após ter roubado uma mala prateada que estava presa ao pulso de um recente maneta qualquer, mas também porque estes carros nos permitem fugir um pouco de tudo, para um mundo onde somos só nós e eles, independentemente da estrada que tenhamos à frente.

Está certo que também se consegue fugir para esse mundo num Saxo Cup ou num Celica, mas este tipo de carros, talvez pela forma como são construídos, pela qualidade envolvente dos interiores, pela estabilidade e pelo mero tamanho deles, têm propriedades que não identifico em mais nenhum veículo. Especialmente, se forem potentes.

Parte da minha "educação" automobilística foi passada ao volante de BMW's e Volvos de grande porte, o que significa que há uns dias, quando experimentei um Mercedes-Benz E 350 CDI de 265 cavalos, senti-me imediatamente em casa, apesar de não ser frequente conduzir "casas" tão recentes, tão caras, tão automáticas e tão a gasóleo. Mas é uma banheira da Mercedes, por isso sabia que não ia ficar desapontado. E surpresa das surpresas, não fiquei. Nada mesmo, era capaz de conduzir aquilo a noite toda.

É verdade, eu sou adepto fervoroso das caixas manuais e pedais de embraiagem, mas no caso dos Mercedes-Benz uma pessoa até já quase que aceita bem as automáticas, de tanto que eles as enfiaram pelas nossas gargantas abaixo. E pronto, está certo, as passagens são super rápidas e super suaves, mas ainda assim, uma versão manual permitiria um controlo do carro que estas caixas simplesmente não permitem.

E o motor? Como é que se portou aquele grande V6 turbo diesel para um tipo que só vê carros a gasolina à frente? Portou-se como tinha de se portar para um motor que ostenta aquele nível de potência, porque quer se goste do trabalhar deles e das baixas RPM's ou não, seria uma grande falsidade negar aquilo que toda a gente já sabe: os diesel modernos andam muito bem. A questão da eficiência real de um motor é totalmente diferente e acaba sempre por dar início a uma discussão sobre o sexo dos anjos, mas falando só de potência e binário, tem bastante dos dois, sem sombra de dúvida.

Só houve uma parte dessa experiência que foi menos positiva, mas não para mim, para os meus passageiros, um dos quais, o dono do carro. É que a partir do momento que um veículo que traz um símbolo a dizer "AMG" de fábrica me vem parar às mãos, ele vai ser conduzido como um AMG, independentemente da versão que seja, de quem estiver dentro ou fora do carro e das condições do terreno em que me encontrar. Felizmente para o carro, o terreno foi suave e o tempo estava aceitável. Mas o que é feliz para o carro nem sempre é feliz para os outros elementos desta equação. Estavam postas as condições para ele ser conduzido como se realmente viesse alguém atrás de nós, e é nesse regime que o carro pode ser verdadeiramente testado, naquele limite que o nosso próprio estômago impõe, antes de conhecermos os limites reais do carro e a densidade de um muro de betão, ou o poder de absorção de um rail. É aí que um carro de fuga vive, na linha do perigo, e ninguém me tira da cabeça que é para isso que eles são feitos. Para fugirmos. Para escaparmos.


 
 
 

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