A Tracção Fatal
- Gonçalo Sampaio
- 7 de jan. de 2016
- 2 min de leitura
Antes de mais as minhas desculpas pelo título horrível deste artigo, mas como quem já me ouviu falar do Opel Ascona sabe, eu não resisto a trocadilhos. E bem podia falar do Opel Ascona, já que foi um dos vários carros que sofreu a conversão para a tracção dianteira a certo ponto da sua vida, perdendo assim toda a vivacidade que tinha anteriormente. Daí o trocadilho, esta tracção foi fatal para muitos modelos, que hoje não são mais do que versões baratas de clássicos sobrevalorizados, como o Corolla AE86 exemplifica.
Mas será que não estamos a ser um pouco injustos com esta questão toda? Até que ponto é que a tracção traseira realmente traz benefícios à nossa vida? Se calhar isto sou eu a passar por um momento de fraqueza, mas talvez, talvez... os carros de tracção dianteira não sejam uma imposição diabólica dos nossos governos para nos transformar em ovelhas.
Não é só uma questão de haver diversos carros "FWD" que deram provas tanto em estrada como em pista, mas também o facto de 90% dos condutores não terem a mínima aptidão para fazer uso da tracção traseira. E vou-me incluir a mim nessa lista.
Porque a realidade é dura, mas muito simples: fazer drifts não é fácil. Porque é que acham que a internet está cheia de vídeos de Camaros e Mustangs a baterem uns contra os outros e as árvores e paredes deste mundo estão cheias de marcas do Ken Block se ir lá espetar? Ser piloto não é para todos, e para quem tem esse dom, pouca é a diferença prática entre guiar um tracção dianteira ou traseira, se o objectivo for só fazer tempos. Para alguns heróis aliás, pouca é a diferença entre tracção dianteira, traseira, ou até integral, mesmo no rally... mas chega de falar de Jean Ragnotti.
O meu ponto de vista, e a moral deste artigo, é que ninguém vai pegar no seu BMW 325i, chegar à saída da autoestrada, fazer um scandinavian flick e aguentar a curva toda com as rodas traseiras a patinar. Se eu estiver errado os meus parabéns, e terei todo o gosto em ir ver isso ao vivo, a uma distância saudável, mas se não estiver, não se sintam mal, estamos todos no mesmo barco, e esse barco tem as hélices montadas à frente.
Mas agora vem o lado menos deprimente da questão, os carros. Não se pode defender a tracção dianteira só com base na falta de talento das pessoas, inclusivamente porque até certo nível, a condução pode ser aperfeiçoada.
Estes são alguns dos melhores carros da história, e nenhum deles transmitiu o mínimo de potência para as rodas de trás. Portanto quando pensarem em comprar um Ford Capri e lhe enfiar para lá um Boss 302 com uma caixa de velocidades Tremec T-5 para fazer passagens tão rápidas que as rodas traseiras até patinam com o binário, acalmem-se, bebam um copo do vosso álcool preferido e lembrem-se destes senhores. Se não tiverem nenhum deles, bem, bebam a garrafa toda.

























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