As Crónicas de um Viciado
- Gonçalo Sampaio
- 25 de jan. de 2016
- 5 min de leitura
Por vezes, aqui no Vício dos Carros, surge-me a necessidade de ter um momento puramente Alfista. Este será um desses momentos.
Este artigo não tem qualquer utilidade para ninguém, será uma mera perda de tempo, nada será aqui dito com intenção de criar o mínimo impacto na vida de alguém. A não ser que os vossos interesses sejam Alfa Romeos velhos.
Os meus são, e foi por isso que reuni aqui 5 carros da épica marca de Milão... e os carros que por eles foram inspirados.
Sim, hoje vou falar de réplicas.
Quando pensamos em réplicas de carros, surgem logo à partida imagens de Carochas com alargamentos estranhos de 911, Toyotas MR2 com kits de Ferrari 355, ou o Pontiac Fiero com kits de qualquer supercarro de que nos possamos lembrar. Acho que se usaram tantos Fieros para réplicas, que o original vai ficar valioso em breve. Mas divago.
Os carros que vos trago hoje são réplicas um pouco diferentes, porque apesar de também termos na lista uma base de Carocha modificada, quase todos eles se esforçam para ser um pouco melhores do que os originais.
Começo então por ordem cronológica, com um dos meus "velhinhos" favoritos, o Alfa Romeo 8C Monza.
Estes são os F40 e os Pagani Zonda dos seus tempos, tendo esmagado a competição durante anos a fio com o seu motor de 8 cilindros em linha supercharged. Não há nada que não seja cool acerca deste carro, portanto é natural que se queira muito conduzir um e imitar o pai do drift, Tazio Nuvolari. Encontrar um, contudo, talvez se prove um pouco mais complicado.
E eis que entra a Pur Sang. Estes grandes senhores com base na Argentina fazem réplicas exactas - leia-se, peça por peça - do Alfa 8C Monza, assim como de Bugattis da mesma época. É uma cópia perfeita do original, desde a carroçaria à mecânica, que nos permite ter a indescritível sensação de conduzir um carro destes em novo, sem o desgaste e os anos de abuso em cima.
Tivesse eu os cerca de 300.000€ que cobram por um e acreditem que veriam nas notícias muito frequentemente manchetes do género: "Clássico aterroriza ruas do Porto" ou "Passeio de clássicos interrompido pela polícia após participante ser apanhado a mais de 200 km/h em Estrada Nacional". Coisas soft portanto.
Avançando alguns anos temos o Giulietta Sprint Speciale, um dos designs mais requintados e mais elegantes de sempre, algo que apenas os James Bonds e Bruce Waynes deste mundo conduziriam. Ou então um tipo do Wisconsin chamado Tom Zatloukal.
Tom Zat, como é conhecido, é um apaixonado pela Alfa Romeo desde muito jovem, e a certa altura decidiu fazer algumas modificações ao seu Giulietta SS, o que rápidamente se tornou num burburinho entre a comunidade alfista norte-americana num mundo pré-internet. Eventualmente aceitou construir um segundo carro e a certa altura saiu-se com o derradeiro SSZ Stradale, uma carroçaria em fibra de vidro sobre um chassis tubular com um motor Alfa V6 Busso de 3 litros ligado às rodas de trás através de uma caixa manual de 5 velocidades.
Com a saída da Alfa Romeo do Estados Unidos da América nos anos 90, Zat virou-se para motores Nissan V6 Twin Turbo do 300 ZX, a produzirem 500cv. Eventualmente foi adoptado o LS6 V8 da General Motors.
O SSZ Stradale foi usado, irónicamente, para competição, e demonstrou grandes capacidades, tendo atingido um sucesso moderado ao longo da sua carreira.
O TZ2 é um dos Alfas mais cobiçados da história da marca, com uma base mecânica do Giulia dos anos 60/70 mas uma carroçaria de Zagato e chassis tubular, o TZ2 pesava 620kg e produzia 160 cavalos, mas foi limitado a 12 unidades, o que dificulta um bocado a aquisição de um deles.
Felizmente, há uma solução, a Not-ar (Not Alfa Romeo).
Esta empresa inglesa fabrica réplicas do TZ2 com bastante perfeição, apesar de se recusarem a fazê-las com as jantes correctas e merdices do género, porque não querem ser associados a Alfas TZ falsos e tal e tal. Eu cá comprava um e tratava das rodas depois.
Como bónus, a Not-ar também faz réplicas do 6C Ala Spessa.
Em 1968 o mundo automóvel mudou para sempre. Por um lado saiu o filme Bullitt, que mudou para sempre o modo como veríamos as perseguições de carros, por outro, saiu o Alfa Romeo Bertone Carabo, que mudou para sempre o modo como veríamos os supercarros.
Foi deste design que nasceu o Countach, assim como todos os outros exóticos que o Pontiac Fiero replicou, e ainda hoje a forma básica do supercarro é a do Alfa Carabo, apesar de a Lotus dizer que é do Esprit.
Só há um problema com este carro, é que só existe um, e é propriedade do Museu Alfa Romeo, em Arese, e eles não mo devem vender ao desbarato.
Talvez consiga, no entanto, comprar um destes ao desbarato: o Fiberfab Aztec 7.
Ok, tem portas estilo asa de gaivota em vez de borboleta e em vez de ter a mecânica e chassis de um 33 Stradale, tem a de um Volkswagen Carocha, mas pelo menos existe, e para mim que vivo em constante revolta por não poder comprar aquele que considero o design mais cool de sempre num Alfa (até mais do que um SZ), é uma luz ao fundo do túnel. Estou convencido que com algumas modificações estéticas e um swap de motor para um Alfa Boxer ou o Busso V6 ficaria ali com um carrito todo catita, caso contrário, posso sempre contemplar o suicídio.
Se estiver um pouco mais confortável de finanças posso sempre tentar encontrar esta réplica feita por Sam Foose, o pai de Chip, que todos conhecemos do Overhaulin'.
E por fim, mais um piparote nos testículos, o Alfa Romeo Sprint 6C, a proposta da Alfa para o Grupo B, que nunca se materializou. Quem me conhece, sabe o que eu sofro por nunca ter conseguido comprar um Sprint Veloce normal, a ponto de o considerar o meu unicórnio, à semelhança do que a Eleanor era para Memphis Raines, no 60 Segundos. Mas antes que comece para aqui a falar das minhas aventuras e desavenças familiares por causa do Sprint, ou de Shelbys Mustang Fastback de 1967, volto à questão principal, que era a versão de homologação para rally do, na altura, Alfasud Sprint (O nome Alfasud viria a cair nessa época com o lançamento do 33).
Este carro teria um motor V6 2.5 montado longitudinalmente a meio do carro, com a potência nas rodas traseiras, o que significa que iria ser uma espécie de intermédio entre um Lancia 037 e um Ferrari 308 GTB, só que nunca foi para a frente, foi um dos vários projectos engavetados e que privou a Alfa de um lugar ao sol no mundo dos rallies, apesar de ter tido muito bons resultados com o GTV6 na mesma altura.
Felizmente, na Austrália, terra de massivos burnouts e lutas de cangurus bêbados com cerveja Foster's, houve quem ficasse tão fascinado com o Sprint 6C, que decidiu replicá-lo, criando assim o Giocattolo.
Inicialmente este carro vinha com o motor V6, tal como a Alfa colocou no seu protótipo, mas rapidamente perceberam que importar motores de Itália estava a ficar muito caro, portanto decidiram optar por uma solução mais "local", o V8 5.0 da Holden de quase 300 cavalos.
Pesando apenas 1100kg, o Giocattolo era mais rápido do que um Lamborghini Countach dos 0 aos 100, e apenas ligeiramente mais lento do que um 911 Turbo nos 400m. A caixa de velocidades era uma ZF manual de 5 velocidades.
Para mim só pecou no motor, por não ser um verdadeiro Alfa, mas também não posso dizer que não compreenda a escolha do V8, na Austrália, naquela época. É um autêntico supercarro com base num dos Alfas mais ferrugentos de sempre, tudo no Giocattolo é heróico.

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