Lendas do Paddok: Larry Perkins
- Rúben Teixeira
- 14 de out. de 2015
- 4 min de leitura
Eu gosto de pilotos discretos, que são reconhecidos pelo sucesso continuo, do que por meia-dúzia de anos de sucesso, e desaparecerem do mapa. Um dos melhores exemplos é Larry Perkins.
Quase desconhecido fora do seu país natal, a Austrália, é de facto um dos melhores exemplos do sucesso continuo.

Nascido em 1950 na zona rural do país dos cangurus, filho de agricultores, rapidamente desenvolveu dotes de condução exemplares, como é habitual em quem cresce assim e em especial naquela altura, onde muitas vezes os filhos eram postos aos comandos de maquinas agrícolas para ajudar os pais, ao exemplo de Jim Clark ou até Sabine Schmidt, para dar uns exemplos.
No inicio da década de 70 ele junta-se à equipa de concessionários Holden como mecânico e posteriormente também piloto, principalmente nas provas de rallycross que na altura tinham bastante popularidade na Austrália.
Dai em diante foca-se nos monolugares, e em 71 ganha a Formula Ford Austrália, em 72 Formula 2 e dai segue para a Europa onde em 1975 obtém o titulo Europeu de Formula 3.
Tanto sucesso seguido abre portas à Formula 1 onde corre alternadamente em 1974 a 77, sem obter resultados fabulosos.


Em 1977 regressa à terra natal e contrariado por não obter lugar permanente na F1, ele aceita fazer provas de carros de turismo, pelas palavras do mesmo "sem grande interesse, a ver se arranjava maneira de voltar à Europa..."
Mas tal não sucede e ele assenta poiso em casa e foca-se no super competitivo campeonato Australiano de Turismo.

Uma faceta de Perkins que o sobrepõe a outros pilotos é os seus conhecimentos de mecânica. Apesar de só ter formação como mecânico e toda a gente saber disso, chamam lhe à mesma de engenheiro pela qualidade do seu trabalho e super profissionalismo.
Já na década de 80 ele faz equipa com a maior estrela do automobilismo local, Peter Brock e ambos adquirem a equipa oficial Holden (HDT), representada pelos concessionários (Holden Dealer Team) e os sucesso amontoam-se, e sucesso naqueles lados do planeta quase se resume a uma coisa: Bathurst. Por 6 vezes esteve no topo do pódio, 1982, 1983, 1984, 1993, 1995, 1997, três delas em dupla com Brock, mas as decisões de carácter dúbio de Brock naquela época (assunto para outra altura...) fizeram com que se separassem e Brock ficasse com ainda mais uns tempos com a HDT, e Perkins criasse a Perkins Enginnering.



Esta equipa foi criada à imagem de Larry: simples, eficaz e capaz de fazer muito com muito pouco, era efectivamente a "mata-gigantes" do campeonato, a equipa privada que ganhava à oficiais, muitas vezes com material antigo, ou o "carro-do-ano-passado".
A personalidade vincada de Larry impunha à equipa regras sólidas: os mecânicos tinham de ir para a cama cedo, e nada de álcool antes das provas (Mecânicos de competição é tipo crianças mal-comportadas, quem os conhece, sabe como é...) decisões técnicas e de estratégia consistentes e formadas em informação válida.
Isso é notório quando ele como privado corria com o Commodore VK e as equipas mais fortes o mais recente Commodore VL e mesmo assim Larry Perkins era mais rápido do que eles.

O final dos anos 80 foi atribulado, com parcerias com a Holden e TWR que entretanto tornou-se parceira oficial tanto dar bons resultados, como derrotas evitáveis, mas serviu para a Perkins Engineering estabelecer-se como fornecedora de peças não só para si mesma, como para outras equipas, apesar de terminar a decada e começar os anos 90 a servir o Commodore como actor secundário aos Sierras e depois aos Skyline, só obtendo vitórias de relevo na corridas de endurance de 500 e 1000km onde o forte e estável Commodore sobressaia mais.

Em 1991 Brock volta a fazer equipa com Perkins dão espectáculo em Bathurt, mas sem vitória... O feitio de Brock e Perkins fazem com que se separem novamente e definitivamente, um seguindo com o patrocínio da Mobil, e o outro a conseguir o da Castrol e assim chegam à nova geração dos V8 Supercars e é mais uma vez a altura de Larry brilhar em Bathurst primeiro em 1993 onde é o segundo mais rápido de sempre com um Commodore VL ainda com um antigo bloco Holden V8, quando as outras equipas com o mesmo carro usam blocos Chevy V8, e novamente em 1995, onde um furo logo na primeira volta põem-no em último e recuperam lugares até ao nº 1, ganhando a corrida, uma de duas únicas vezes que isso aconteceu na mítica prova de Mount Panorama.

Pelo meio ainda houve participações em Le Mans, tanto novamente em equipa com Brock num Porsche 956, como na equipa oficial Jaguar/TWR com as famosas cores da Silk Cut, onde chegou a obter um 4º lugar em Le Mans.

A reforma do seu lugar como piloto veio em 2003, aos 53 anos, onde nos treinos para a prova de Bathurst desse anos, a idade já afectava os reflexos, e em directo viu-se que "Lightning" Larry já não tinha velocidade para os novos V8 Supercars, e assim remeteu-se a gerir a sua equipa.

O feitio de Larry Perkins, embora parecendo difícil ao inicio, a sua firmeza e franqueza, sem tempo para papas na língua, tornou-o um dos pilotos mais acarinhado pelo público, e admirado pelos seus pares, que por admissão do próprio Larry ajudaram-no em muito, sem pedir nada em troca.
São pilotos assim, discretos mas sólidos, que fazem este desporto florescer, mesmo que não sejam capas de jornais.


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