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Crónicas de um Viciado

  • Gonçalo Sampaio
  • 2 de set. de 2015
  • 3 min de leitura

Certas histórias têm simplesmente tudo para resultar. Um polícia preso num arranha-céus ocupado por terroristas, um jovem salvador da galáxia que descobre ser filho do vilão, um padre que se envolve com a Soraia Chaves... Ou então esta: uma marca de carros que decide homenagear um roadster britânico preparado por um texano. Esse texano era Carroll Shelby, o roadster britânico era o Cobra e a marca de carros foi a Dodge.

A história foi o Viper.

Mas apesar de eu ser um fã tão grande do Viper como o próximo, aquilo que realmente mexe comigo são as suas versões coupe de (ainda mais alta) performance. Um roadster V10 de 8 litros e mais de 400 cavalos é interessantíssimo, mas com um tejadilho e alguns ajustes (e um homo sapiens sapiens do lado mais a oeste da Península Ibérica, chamado Pedro Lamy ao volante), temos uma máquina para vencer as 24 Horas de Le Mans.

E é uma dessas derivações com tejadilho que eu quero salientar aqui hoje, o American Club Racing, mais conhecido como ACR.

Este carro nasceu em 1999, era mais potente do que o Viper normal, tinha melhor suspensão e, tal como o 106 Rallye de que falei na semana passada, era mais leve e funcional, não tinha coisas como faróis de nevoeiro, porque os faróis de nevoeiro não fazem nada que os máximos não possam fazer e só servem para dar pinta, pronto, já disse. Toda a indústria de faróis de nevoeiro é um enorme esquema de lavagem de dinhei[censurado pela PIDE - 09/2015].

Mas o verdadeiro ACR que me deu vontade de escrever esta crónica foi o modelo de 2008, a segunda geração, o recordista.

Esta versão era mais extrema do que a original, apesar de manter a mesma potência do SRT-10 normal (uns meros 600 cavalos), e nem rádio trazia. Mas as vantagens aerodinâmicas, pneus de corrida e travões todos xpto permitiam-lhe desempenhar muito melhor do que um Viper de série, a ponto de assustar nomes pesados das voltas aos circuitos, como todos os supercarros italianos e o Nissan GT-R.

Mas assustar não chegava à Dodge, que lançou o ACR-X, este sim já com mais 40 cavalos e ainda mais material de corrida, o que o tornava ilegal para a estrada. Ainda assim, estamos a falar de um carro que vai dos 0 aos 100 em 3,4 segundos e que faz o Nürburgring Nordschleife em 7.03s, 5 segundos mais depressa do que o GT-R Nismo.

E o facto de ser ilegal para a estrada não quer dizer necessáriamente que não haja ACR-X matriculados, podem é parecer bastante mais italianos do que são na verdade. Esse carro foi a base na qual se assentou a carroçaria do Alfa Romeo TZ3 Stradale, uma super exclusiva criação de Zagato, limitada a 9 unidades. E logo por azar, não comprei nenhuma a tempo.

Entretanto a segunda geração do Viper acabou, a Chrysler foi comprada pela Fiat e o destino do super-desportivo americano parecia incerto, mas acabou por correr tudo bem, e o novo Viper lá foi lançado, com a potência do ACR-X nas versões base e a mesma caixa manual Tremec de 6 velocidades. Com ele chegará em breve um novo ACR, que nunca será tão bom como poderia ser, porque a Ferrari já pediu com jeitinho para os americanos não esticarem demasiado a corda, algo que decerto faz o velhote Enzo dar muitas voltas no caixão, de tão humilhante que é. No seu tempo quando alguém fazia um carro mais rápido, trabalhava-se para o bater, em vez de tentar ganhar na secretaria. No tempo de Carroll Shelby também, e daí nasceu o Viper. Se fosse hoje, ninguém tinha coragem de lançar um carro com um V10 de 8 litros.


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