Crónicas de um Viciado
- Gonçalo Sampaio
- 19 de ago. de 2015
- 2 min de leitura
Alguns carros têm o aspecto de aeronaves, outros têm o aspecto de mulheres curvilíneas, outros de animais ferozes como panteras e chitas, mas há alguns carros que parecem simplesmente batráquios ou insectos. Não há nada de errado em um carro se parecer com um batráquio, basta pensarmos no Citroën Boca de Sapo, de que toda a gente acaba por gostar um pouco, e o mesmo se passa com os insectos, ou não fosse o Volkswagen Carocha um dos carros mais queridos do povo.
Contudo, às vezes o aspecto cómico e excêntrico destas espécies não cai muito bem entre os fãs de automóveis, e acabamos por ficar com aqueles carros de que apenas uma mãe poderia gostar... bem, uma mãe ou eu.
Esta é a história do Ford Scorpio Mark 2, um carro do qual apenas eu gostei.

Quem me conhece ou lê as minhas crónicas há tempo suficiente, sabe que eu sou um eterno adepto de linhas rectas, dos designs dos anos 80, de ângulos e vincos, vértices e esquadria, mas poderá não saber que, ocasionalmente, tenho os meus casos fora do casamento com a régua. Nesses casos, como em todos os casos extra-conjugais, há aqueles que toda a gente compreende, como um Ferrari 250 Testa Rossa, ao qual chamarei de Angelina Jolie, e aqueles que obrigam todos os amigos a questionar a nossa sanidade mental, como um Fiat Multipla, ao qual chamarei de Angela Merkel.

O Scorpio MK2, aos olhos de quase toda a gente no mundo, é uma Angela Merkel, mas para mim, mesmo sóbrio, é uma Jennifer Lawrence no mínimo.

E não era um carro mau, a sua plataforma era derivada do Sierra, o que fez dele o último Ford europeu de passageiros com tracção traseira. Na sua versão mais desportiva, vinha equipado com um 2.9 V6 de 24 válvulas Cosworth, produzindo 207 cavalos. Infelizmente, este motor veio sempre acoplado a uma caixa automática, portanto lá se vai o desportivismo. O máximo que se poderia ter com uma manual de 5 velocidades era o mesmo 2.9 mas com 12 válvulas, e cerca de 150 cavalos. Ainda assim, o potencial é enorme, recordo o júri de que ambos os motores eram completamente desprovidos de qualquer ajuda na indução de ar, pelo que podemos imaginar o efeito de um mero turbo.


Por dentro o carro era tipicamente Ford anos 90, poucas são as diferenças entre o Scorpio e um Mondeo, mas isto não tinha importância absolutamente nenhuma, porque não havia ninguém para se sentar dentro dele logo à partida.

Ainda assim, a Ford alega que o carro vendeu acima das expectativas da marca. Por outro lado, nunca revelou quem foi o seu designer, não fosse o homem (ou a mulher) ser apedrejado na rua ou queimado dentro de casa, e conta-se que houve quem se demitisse da Ford quando o carro foi lançado.


Eu mantenho a minha posição, desde o primeiro dia em que o vi, sempre gostei deste carro, ainda tenho a minha miniatura da Minichamps e se a vida me permitir, terei um verdadeiro algum dia, e nem sequer lhe ponho os vidros fumados, porque ficarei feliz por ser visto a conduzir um.





P.S. Alguém se lembra dele enquanto táxi nesta velha série de apanhados da SIC?

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