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Especial - A Morte do Elefantino

  • Gonçalo Sampaio
  • 13 de ago. de 2015
  • 5 min de leitura

No Vício dos Carros a Lancia é sagrada, todos gostamos de Alfas, de Ferraris, de Maseratis e Lamborghinis, mas a Lancia tem um lugarzinho especial no coração.

Como resultado desta nossa condição, é justo dizer que ficamos bastante mal-dispostos quando alguém faz algo que prejudique a Lancia, ou o seu bom nome. Naturalmente, andamos mal-dispostos há muitos anos.

Este artigo tem como objectivo denunciar os modelos responsáveis pelo desaparecimento da Lancia... a nossa querida, querida Lancia.

Antes de mais não vão ver aqui o Beta, porque apesar de esse carro sofrer de gravíssimos problemas de ferrugem, um restauro com direito aos actuais tratamentos anti-corrosão resolvem o assunto. Além disso esse carro teve direito a versões com superchargers, o que compensa imediatamente qualquer problema que ele pudesse ter.

A lenta morte da Lancia começa na verdade em 1989 com o aborrecidíssimo Dedra.

É um pouco irónico que o maior fã do mundo do Alfa Romeo 155 aponte o dedo à versão desse carro da Lancia, mas a realidade é que houve muita tentativa e erro até sair um carro decente dessa plataforma (recordo que antes do 155 de 92 foram lançados ainda o Fiat Tipo e Tempra).

O Dedra era relativamente feio (certamente não tinha a elegância do Thema) e para substituir o Prisma, que era um Delta com mala, era simplesmente demasiado gordo e desprovido de pinta. Não é que fosse um carro mau, teve inclusivamente uma versão integrale com um 2.0 Turbo de quase 180 cavalos, mas, sinceramente, quem é que quer saber?

Segundo culpado, e talvez o mais importante, foi o segundo Delta.

Estes carros eram incrivelmente requintados para o seu segmento, com direito a bancos em alcântara e tudo, mesmo em versões base, e eram bem construídos, eu que o diga, que já tive um acidente dentro de um, contra um camião TIR, e saí ileso, assim como todos os restantes ocupantes. O próprio Delta ainda viveu uma vida feliz depois disso, com alguns painéis novos, mas viveu. Portanto se o carro era bom e me protegeu de ser desfeito pelas rodas de um monstro de 70 toneladas, o que é que me leva a odiar tanto a segunda geração do Lancia Delta? Era uma amostra do que o original foi. Não teve direito a uma versão de tracção às 4, nem sequer a faróis redondos e a sua versão mais "hardcore" era sinceramente parola. Não seguir a receita do Delta original foi mais do que um tiro no pé, foi mergulhar directamente para a lava.

Terceiro culpado: Lancia Zeta.

A sério? Uma monovolume? Quem é que achou que isto seria uma boa ideia? Nem quero perder mais tempo com isto, próximo!

Quarto culpado: Lancia Lybra.

Francamente. Alguém tenha dó. Que porra foi esta? A Alfa lançou o 156, o sedan mais bonito da história na opinião de muitos, e a Lancia sai-se com isto? Como se não bastasse a ofensa visual, ainda consta que eram mal feitos. Caramba Lancia, o pessoal queria faróis redondos, mas fogo...

Quinto culpado: Lancia Phedra.

Óptimo, mais uma monovolume, já que a última correu tão bem...

Sexto culpado: Lancia Thesis.

E aqui é que a porca torce o rabo, porque eu sei que o Rúben Teixeira gosta do carro, mas também sei que o mundo quase todo partilha da minha opinião, e a minha opinião é que isto é dos designs mais revoltantes de sempre. No geral eu consigo atribuir uma certa pinta ao carro, especialmente à traseira, mas aquela frente à MGA não tem desculpa. Foi uma aposta "all-in", que não resultou.

Sétimo culpado: Lancia Ypsilon I.

Porque não bastava destruír o segmento do Thema e do Kappa, foi preciso aplicar o mesmo design do Thesis ao Y, que até estava a correr bem. Horrível.

Oitavo culpado: Lancia Musa.

Quem já vomitou esparguete sabe que há poucas coisas igualmente más, mas quem conhece o Musa está imune. Quem conhece o Musa até bebe para o esquecer, e vomitar o esparguete do jantar parece uma boa ideia comparado com o drama de ter um carro destes à frente dos olhos.

Nono culpado: Lancia Delta III.

Mais uma facada, anunciar um novo Delta e depois lançar isto. Este foi o golpe de misericórdia numa marca de carros moribunda, o que mesmo assim não impediu que profanessem a sua campa.

Décimo, décimo-primeiro e décimo-segundo culpados: Lancia Thema II, Lancia Voyager e Lancia Flavia II, os Chryslers.

O renascimento do Thema com base num carro de tracção traseira e motores V8 (Chrysler 300) seria supostamente motivo de regozijo para mim e os fãs da marca, mas até isso foi mal feito, porque o novo Thema não teve direito a uma caixa manual, nem aos motores V8 de 470 cavalos, apenas a um diesel da VM Motori - sim, da VM Motori - e a um 3.6 V6 da Chrysler com menos potência do que o americano, por causa das emissões.

Depois temos a Voyager, que toda a gente conhecia perfeitamente bem como Chrysler e de repente recebeu o símbolo da Lancia como se isso fosse ajudar nalguma coisa. Será que pintada de branco com umas riscas da Martini fica interessante?

Por fim, o Flavia, a derradeira cuspidela no passado glorioso da Lancia, um Chrysler 200 descapotável, que é apenas um chaço de tracção dianteira com uma caixa automática e um motor 2.4 a gasolina completamente desadequado para a Europa. Eu acho que nunca vi um na rua sequer.

Décimo-terceiro culpado: Lancia Ypsilon II.

Não é pior do que o anterior, mas tem 5 portas e este aspecto. É o último Lancia genuíno e a sua versão mais potente é um 1.3 Diesel Multijet de 95 cavalos. Não me consigo conter com tanta emoção.

Décimo-quarto e décimo-quinto culpados: Lancia New Stratos/Luca di Montezemolo.

Este protótipo matriculado era para ter sido produzido, ainda que de forma muito limitada, com base no Ferrari F430 Scuderia, e até o, então, presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo aprovou o carro, mesmo antes de enfiar uma bota no cu dos seus criadores e investidores e os mandar dar uma volta ao bilhar grande, já que a Ferrari não anda a fornecer nada aos outros. Foi um dos vários "fuck you's" de Montezemolo às empresas do grupo Fiat que não eram a Ferrari ou a Maserati, dos quais destaco também os casos do 166 GTA, a resposta da Alfa Romeo ao BMW M5, com tracção às 4 rodas e um V8 Maserati, que iria "afectar as vendas do Quattroporte", e o Brera V8, que iria entrar em conflito com o Maserati GranTurismo.

Bem, desde que ele saiu já apareceu um Alfa Giulia de tracção traseira com 510 cavalos e há rumores de um novo Delta Integrale a circular por aí. Talvez o último "fuck you" ainda seja da marca do Elefantino...


 
 
 

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