Lendas do Paddock: Biturbo
- Rúben Teixeira
- 11 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Lendas do Paddock também deve de falar de falhanços lendários, como a investida da Maserati no WTCC de 1987, usando o malogrado Biturbo.
Ah... o Biturbo... tantos defeitos num carro que poderia ser tão bom...
Mas vamos por partes, e vamos começar pelo inicio da criação desta gama de carros da marca dO Tridente, mesmo no inicio da decada de 80.
Logo quando anunciou-se as especificações do novo modelo, os stands Maserati foram inundados de pedidos de reservas para as primeiras unidades, ainda antes do carro ser lançado. Era um carro super sofisticado para a época, e com um preço muito mais acessivel que dos Maserati até a essa altura.

O carro tinha em teoria tudo para ser bem-sucedido: aspecto moderno para a altura, motor V6 com dois turbos paralelos a alimentar cada bancada de cilindros, diferencial autoblocante, e acima de tudo dimensões compactas, mais ou menos próximas das de um BMW Série 3 de época.
Tudo apontava que seria uma base desportiva espectacular, mas a má qualidade de alguns componentes, desenvolvimento do projecto feito à pressa e mau controlo de qualidade na linha de produção deitaram tudo a perder. Quem comprar um hoje, aconselho que ou seja ou tenha, um bom mecanico que saiba desenvolver um projecto, pois ao restaurar/preparar terá de corrigir o que de fábrica não foi feito. Há algumas empresas que vendem kits e componentes e felizmente um grande apoio de sites e foruns para ajudar. Só assim será possível disfrutar do grande carro que PODERIA ter sido.



E esta visão do carro de estrada foi tirada a papel quimico para o carro de competição: teoria boa, na prática... nem perto...
A Maserati de certo que investiu, pelo menos na imagem, pois toda a estrutura gerida pela ProTeam/Imberti parecia profissional, mas os resultados mostraram que nem de perto o eram...
Havia esperança que converter o Biturbo em carro de corrida iria trazer o melhor dele ao de cima, quantos carros desinteressantes tornaram-se grandes carros de competição? Ibiza KitCar, Metro 6R4, Chevrolet Lacetti, Citroen C-Elysee...
As dimensões eram quase perfeitas, a flexibilidade de homologação, motor sobrealimentado, leve, primeiro com 2 carburadores e depois a injecção electrónica (IAW Weber Marelli)
prometia potência, mas era mal preparado.

A suspensão não absorvia a estrada, parecia afinada por um xuneiro qualquer, e o resultado era que a suspensão, transmissão e os seus demais componentes estavam sobre stressados e cediam.
Outro ponto fraco era o V6 de 2.5litros, um puro-sangue de dimensões sobre-quadradas que teoricamente deveria debitar 360cv às 6000rpm, mas a sua preparação era tão tosca que nem cartér seco foi instalado e as bombas de óleo não drenavam o óleo dos turbos, onde este acumulava, sobreaquecia e os vedantes iam à vida.
De facto, este motor só foi competitivo quando avariou! Na pista de Calder Park na Austrália a dada altura o limitador de pressão do turbo bloqueou, dando máxima pressão em todo o regime e o carro começou a alcançar todos à sua frente, até queimar uma junta da culassa...



De facto, o Biturbo em modo de competição foi um caso perdido, não por falta de qualidades, mas de desenvolvimento. A sua carreira continua nos campeonatos domésticos contra os 75 Turbo e E30 M3 mas apesar de evoluir até 1989 perdendo quase 100kg e ultrapassar os 400cv, só serviu para preencher as grelhas de partida. Até uma perninha nos rallies não levou a lado nenhum. Mas o fim não vinha já.


A Maserati foi evoluindo, nas sua imensas versões: descapotável, berlina, coupes, etc... levando o conceito do Biturbo a engomar algumas "rugas feias" e o carro foi-se tornando num desportivo aceitável, em especial com o surgimento dos 24 válvulas em substutuiçãos dos de 18 válvulas, passando de uma cames por cabeça, para duas, tornando-se num quad-cam (primeiro 3 válvulas por cilindro, depois 4. Chegaram a testar 5 válvulas antes da Ferrari e VW e Volvo o fazerem...) e em especial quando surge o V8 do Shamal, o carro está de cara lavada e mais refinado.
A sua última evolução é um restyle completo pela mão de MarcelO Gandini e torna-se no Ghibli, que também ganha vida nas pistas no seu próprio troféu monomarca, a Ghibli Cup, em que o seu V6 de 2000 cc e 24 válvulas, ainda equipado com 2 turbos IHI debitava 330cv e tinha um kit aerodinamico bem agressivo.




Eventualmente a Ferrari adquire a Maserati e decide esquecer este passado triste da Maserati sem brilho nas pistas, para substituir com o brilhante e dominado MC12 de GT1.
Ainda assim, o Biturbo é aquele carro mau que tinha tudo para singrar, menos os meios.











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