Lendas do paddock- Jean Ragnotti
- Ruben Teixeira
- 21 de jul. de 2015
- 4 min de leitura
Hoje não vamos falar de uma lenda, mas sim de Deus. Sim Deus.
Blasfémias à parte, é deste modo que o nosso objecto de conversa muitas vezes é referenciado.
Estamos claramente a falar do simpatiquíssimo Jean Ragnotti, aquele francês que toda a gente adora.
Ele está a pouco mais de um mês de completar 70 anos, mas é um eterno jovem com o entusiasmo que ainda hoje demonstra ao volante dos carros da sua amada Renault.
Mas a carreira deste prodígio não se iniciou nos carros da marca do losango, mas sim num simples Fiat 850 no ano de 1967, mas rapidamente passou para o carro desportivo dos jovens da sua geração, o Renault 8 Gordini, em que logo na estreia numa prova regional obtém um terceiro lugar à geral e primeiro no Grupo 2.
O sucesso de 1968 faz com que na época de 1969 decida fazer também provas do nacional francês e nesse mesmo ano transita para a Opel, primeiro com o Kadett Rallye 1900 e depois conduzindo também o enorme Commodore GS/E com que obtêm vitórias no Grupo 1 e regularmente termina no Top 5 da Geral das provas onde corre.
De 1971 a 1977, "Jeanot" como é conhecido salta de marca em marca, desde os Opel, passando por Alfa Romeo 2000GTV em Spa, até a um Camaro, e na tipica tradição dos pilotos franceses de fazer de tudo um pouco, tanto anda nos rallies, como corre até na Formula 3 e Sport-Protótipos pela March.
Em 1975 é Vice-Campeão de Formula Renault, e pode-se dizer que é ai que estreita as suas relações com a Renault.
Em 1977 é campeão de RallyCross Francês com um Alpine A310 V6 e é 4º em Le Mans com a Rondeau, ele que em todas as vezes que participou na prova ficou sempre no Top 5.
Um dos dois carros que mais marcaram a sua carreira com a Renault foi o R5, primeiro com o R5 Alpine Turbo de 1978 de tracção dianteira e 130cv que já mencionamos no artigo dedicado à Alpine, carrinho que com aquele peso-pluma faziam com que esses 130cv pusessem máquinas muito mais potentes em sentido.
Mas a rápida evolução dos rallies no inicio da década de 80 obrigaram a Renault a tomar medidas extremas e criar o R5 Turbo de motor central e turbo, e conjugando os dois modelos obtém o primeiro titulo de campeão nacional francês de rally, e em 1981 vence o Rallye de Monte Carlo, a contar para o Mundial e um segundo titulo francês em 82 e também uma vitória no Tour de Corse que repete em 1983.
Titulo nacional francês em 1984 novamente e nova vitória no Tour de Course, e em 1985 a dobradinha nas provas rainhas de asfalto: Tour de Course e Monte Carlo.
Com o fim dos Grupo B, corre
com o R11 Turbo de Grupo A onde não deveria lutar pela vitória, mas que em 1987 no Rally de Portugal quase que rouba a vitória aos poderosos Delta Integrale depois da etapa de Arganil dar cabo dos amortecedores. Só se safam quando mandam vir de avião peças novas vindas de Itália para os salvar de uma humilhação de serem vencidos por um carro de 2 rodas motrizes e 1400cc...
Depois da passagem pelo R11 turbo, Ragnotti volta às pistas no na altura super competitivo Campeonato Francês de SuperTurismos, primeiro com um Maxi Turbo levado ao extremo, e depois com o 21 Turbo Quadra de tracção integral e sendo coroado bi-campeão em 88 e 89.
Com o inicio da década de 90 volta aos rallies com o 5 GT Turbo e obtém o titulo no Grupo N antes de em 1991 sentar-se no outro carro com irá marcar as nossa memórias: Clio de Grupo A onde logo no ano de estreia torna-se campeão da categoria de duas rodas motrizes, algo que é 4 anos consecutivos, dois deles vice-campeão absoluto.
Com o Clio demonstra um nível de ataque às curvas incrível, quase fazendo querer que o Clio veio de fábrica com tracção traseira ou mesmo às 4 rodas, da maneira que Ragnotti atira, executa e sai das curvas e contra-curvas, exercitando o travão de mão a um ritmo brutal.
Chegado a 1995 retira-se do activo, fazendo algumas provas esporádicas.
Dai para a frente tornou-se um "embaixador" da Renault sendo um dos principais animadores dos eventos que a marca organiza, levando o 5 Turbo às novas geração, mostrando um nível de controlo de um automóvel (e um notoriamente nervoso como este) nos limites que é incrível de se testemunhar, em especial com o à-vontade e simpatia que sempre o caracterizaram. A sua imagem de marca sãos os seus famosos piões de 360 graus, muitos deles a altíssimas velocidades, na maneira graciosa que só ele sabe fazer.
Só para lembrar que ele já passou a meta em pião de 360º para comemorar vitórias, algo que o resto do Mundo só o faz na Playstation lá de casa.
Aconselho a quem tiver oportunidade de testemunhar a condução super espectacular mas rápida e eficaz deste simpático homem, de uma tremenda humildade em relação ao sucesso e ao seu talento, e com um enorme amor "à camisola". Quem sabe quantos títulos mundiais teria se corresse noutras marcas.
Ainda não à muito tempo tive a oportunidade de conversar com o responsável de marketing da Renault Portugal numa acção de promoção do Mégane RS acerca da vinda de eventos da
Renault como já houve em Portimão e Estoril e a resposta foi que o mercado português não suporta o gasto que uma operação dessa envergadura obriga, ao que respondi: "Nós só queremos ver o Ragnotti."
E acreditem, vocês querem ver mesmo...
Ruben Teixeira, no Vicio dos Carros

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