Lendas do Paddock: WTCC Vila Real 2015
- Rúben Teixeira
- 14 de jul. de 2015
- 7 min de leitura
Como não podia deixar de ser, o Lendas do Paddock tinha de regressar com a cobertura da segunda prova de um Mundial da FIA a ter lugar no nosso País: o WTCC.

Depois do embróglio e pura fraude que foi a perda do Circuito da Boavista, que não vamos entrar em promenor aqui, a espectativa da prova em Vila Real era grande.
Primeiro, vamos já saudar o empenho, profissionalismo, caracter e presença do Municipio de Vila Real, liderado pelo seu Presidente, numa prova de sentido de oportunidade em salvaguardar o que o presidentezinho da C.M Porto deitou ao lixo. É nestas coisas que o pessoal de Tras-os-Montes, Minho e arredores fazem com que nós os Tripeiros lembremos que não somos os únicos Nortenhos com garra. E ainda bem que o fazem.

O clima estava propicio. A pista é uma mistura de técnica e velocidade, passa de zona urbana para zona rural, têm irregularidades no asfalto, sim. Mas isso só dá mais caractér e drama ao traçado. Falha em duas coisas que a própria organização já deu conta e pretende corrigir: aquelas duas chicanes le-ti-ssí-mas! E estreitas, sem necessidade nenhuma pois até há espaço em redor. Cortam muito do "embalo" da volta. O resto do traçado demarca-se como sendo para homens, havendo pontos de travagem a meio de curvas de longas e rápidas, feitas em apoio para entrar em curvas de velocidade muito inferior, que devem de ser uma "pica" enorme de quem vai ao volante e um regalo de se ver para quem está de fora!

A atracção principal do fim-de-semana era óbviamente o WTCC, e embora houvesse provas a contar para vários campeonatos nacionais, será na prova-rainha que nos iremos focar.
E para isso há uma novidade aqui no Vicio dos Carros: O Lendas do Paddock reporta um artigo vindo mesmo de um paddock real!!

Nos FEUP a prova foi óbviamente dominada pelos Alfa Romeo 156, mas a meio do pelotão viu-se os Punto 70 a morder os calcanhares a alguns Alfas, pois o nível de preparação mecânico/talento não é ditado por categorias. No fim a vitória de ambas as rondas foi para a dupla Teixeira/Delgado, mas que acabaram desclassificados por o seu 156 estar 3kg abaixo do peso minimo regulamentar. Assim a vitória caiu nas mãos da AMOB e da sua dupla Moura/Batista.
Nos sempre interessantes Clássicos 1300 a disputa foi como é hábito entre os Datsun 1200/Escort 1.3 Mk1, com o carro da marca da oval a sair dominador de ambas as corridas, pela mão de Gonçalo Gomes, que deixou uma verdadeira "armada" de Datsuns atrás de si.


Nos Clássicos "grandes" foi mais uma vez a AMOB a receber os louros, também para ambas as provas, agora pela mão de Luís Barros e do seu Porsche 911 (930) Turbo decorado com o "camuflado" tipico da sua equipa e que nem o grande Joaquim Jorge no seu estilo único ao volante do seu icónico Escort Mk1 conseguiu-lhe fazer frente nas duas corridas.



Na Legends Cup, a categoria que está a fazer muita gente tirar "do armário" grandes máquinas de corrida que não tinham para onde ir depois das suas respectivas categorias terem terminado ou homologações terem terminado, foi repleta de acção, pela mãos dos meninos a correrem com os pópós mais brutos. Isto é João Novo e Manuel Barros cada um com um Ford Sierra Cosworth RS500 Grupo A, daqueles que já faziam frente a muito supercarro, e o outro primo da familia Barros, Vasco Barros no lindissímo Mercedes 190 Evo 2 Classe 2 FIA, ou como vulgarmente é conhecido "ex-DTM". Ambas as corridas foram preenchidas por lutas entre estes 3, e até os primos puseram de lado parentesco e equipa e lutaram entre si de uma forma digna de se ver. No final o Manuel ganhou a primeira corrida, o Vasco a segunda e João Novo ficou no mais baixo do pódio em ambas, com a segunda corrida a acabar com bandeiras vermelhas e resultados suspensos, para por fim ser dada a classificação da volta anterior, devido ao acidente do BMW E30 325i de Paulo Teixeira.
A AMOB saiu de Vila Real de certeza em festa rija pois dominaram de uma forma ou de outra todas as categorias em que estavam inscritos.

E por fim o CNV, ou como eu gosto de lhe chamar: o campeonato do guito. Tem-se guito compra-se o carro, o fato e a licença e "olhem para mim! sou um piloto de corridas, brrrum, brrrum!!!..." E isso foi claramente visivel, em carros vistosos pilotados por sabe-se lá quem e pessoal com talento e carro inferior a ficarem a frente de carros de topo. Há óbviamente grandes excepções a isto. Nos GT a categoria foi ganha pelo sempre competitivo António Nogueira e a corrida de topo em ambas as ocasiões pela dupla Lobato/Salvador.Estas provas foram marcadas por vários toques, tanto motivados por inexperiência como por demasiado entusiasmo e agressividade em carros que nesta pista deveria ser pilotados de um modo mais seguro do que em Braga ou Estoril, por exemplo.




E quanto aos Abarth? Ninguém quer saber de corridas de celebridades em carros de gaja.Niguém. Niguém mesmo.

Aproveito este intervalo antes dos WTCC para falar do ambiente em Vila Real.
Sim, houve pequenos erros, compreensiveis sob o facto de ser a primeira vez que esta estrutura recebe uma prova desta envergadura, mas nada de muito grave, mas que já podiam ter sido revistos por pessoal de apoio que transita de outros traçados para dar apoio a este circuito temporário sem staff próprio por motivos óbvios.
Muito se falou nos preços dos bilhetes e do facto de serem obrigatóriamente para 3 dias. Tendo estado presente em todas as edições da prova na Boavista, em locais pedonais, digo que para muitos terem o seu lugar e espaço próprios durante a prova, sem receio de se ausentar por puder perder o lugar ou o local onde está ficar saturado de gente, então talvez faça sentido. Mas em Vila Real apesar da afluência do público, havia espaços gratuitos, de fácil acesso com excelente visibilidade e proximidade para algumas das secções mais interessantes do traçado transmontano, e com cafés e restaurantes sempre por perto. Muito mais do que no Porto, talvez por muito do público não ser da zona e não conhecer tão bem o terreno.
Quanto ao acesso ao paddock, os mesmo 10€ que nas edições na Invicta e justo por completo.
O paddock tinha multiplos acessos, estava localizado ao lado de um grande shopping, e toda a comodidade que isso propociona, e era amplo e organizado, pelo menos para as equipas portuguesas, pois a área reservada aos WTCC pareceu-me minúscula comparada à do Porto. Talvez por isso e ao contrário do Porto o seu acesso por parte do público à área das equipas do WTCC estava condicionado, de modo a o público não criar o caos às equipas.
A parte a rever é os poucos expositores da secção de automobilia, que não eram mais do que meia dúzia, talvez porque tenha havido poucos interessados, mas que com este sucesso todo de certo ira ser diferente para os anos vindouros, pois até as marcas pouca promoção fizeram, excepção da Honda, tanto por ter o Tiago Monteiro a jogar em casa, como por estar a lançar o novo Civic type-R tinha um "showroom" interessantissimo, com 3 Type R, um Civic de turismo de 5 portas e um Civic WTCC ex-Tarquini em exposição ao público, um motor de competição e o motor do Type-R expostos e 3 simuladores de corrida (tal como a portuguesa GT Competizione tinha, lembremos) além de uma gift shop no local.






E então o WTCC? Os resultados já todos sabemos. Já tal como fizemos com o WRC não vamos debitar números que qualquer um tira dos sites oficiais, à-lá copy-paste. O que interessa é o que não é óbvio.
Primeiro: andamentos.
Os Hondas estão muito atrás dos Citroen. Isto já é certo e sabido à muito, e a prova de Nurburgring assentou essa ponto como um murro direto ao nariz.
Era dito por ai que a diferença de potência entre os Honda e os Citroen é de 40cv, e se tivermos em conta que os Citroen em Vila Real tinham 60kg de lastro, talvez esse número de CV não seja irreal, mas não conta a história toda.
Vila Real é muito técnica, e é uma pista à moda antiga onde salta à vista o comportamento de cada carro em curva.
Os Citroen parecem ser carros que permitem controlar-se muito bem no limite. Nas últimas sequencias de curvas antes da resta da meta, era notória os C-Elysé a sobrevirarem por cima dos ressaltos e mudarem de direcção logo de seguida, enquando os Civic era conduzidos de modo muito mais linear.
Isto traduzido para linguagem de Hondeiro: "Tschhh, aqueles PSA´s têm muito power, ó maninho..."
Aqui talvez seja um efeito de que a BMW era perita nos anos 80 e 90, ter muitas equipas ou pilotos a desenvolver um carro individualmente. Quando já de si um equipa têm competição interna, ajuda a puxar a performance colectiva acima da dos rivais de fora. Pensem na rivalidade na McLaren-Honda entre Senna e Prost e compreendem o que aqui digo.
E com Muller, Lopez e Loeb na mesma equipa, esse efeito volta a repetir-se.

Depois, Segundo: o caso Monteiro na segunda corrida.
A opinião é unânime: tinha velocidade, viu uma abertura, arriscou. A pista não é propicia a ultrapassagens e ali era uma grande oportunidade. Fez o que qualquer piloto com "ganas" de vencer faria. Se tivesse resultado, seria uma das ultrapassagens do ano, com direito a replay até 2016. O Tiago esteve em ambas corridas simplesmente fulgurante nos arranques, e os dois Ladas sabiam e dai terem "fechado a porta"
Terceiro: wtf Loeb?!
Aquele acidente do Loeb na segunda corrida foi falta de calma por parte de um tipo que era o Rei da calma. O Lada ao perder tempo ia emaranhar-se com o Civic de Michelisz e ambos iam perder tempo, ele mais para a frente iria ter oportunidade de se aproveitar-se dessa luta. Ele naquele ponto, com a velocidade que levava, dificilmente passava um carro, talvez com um travagem no limite do possível, muito menos dois. O acidente era evitável por parte do 9 vezes campeão do Mundo.
Quarto: ganhou aquele outro que também corre na Citroen.
Numa equipa com dois franceses pluri-campeões mundiais, um argentino talentoso, quem iria adivinhar que seria o piloto que é constantemente ofuscado pelas estrelas da equipa gaulesa a ganhar uma das mangas? Acho que é a primeira vez que uma Chinês ganha uma prova desta envergadura. Festa rija, ou não para os lados do Oriente.

Nota final: as promotoras que por lá andaram não decepcionaram. Comentário machista sim, mas não pude evitar...



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