Crónicas de um Viciado
- Helder Teixeira
- 18 de jun. de 2015
- 3 min de leitura
Bem, como hoje vou falar de vários carros e não de um modelo específico, vou desde já "chibar-me" sobre o que me traz aqui: Os primeiros Mustangs de 7 litros.

Porquê? Porque são os meus carros favoritos (logo a seguir ao DeLorean), e porque, ao contrário do DeLorean, estes Mustangs andavam mesmo muito.
Comecemos pelo princípio, com o Deus dos V8, o homem que tratava o automóvel por tu, o homem que venceu LeMans atrás do volante e nas boxes, o homem que fez de um pequeno desportivo britânico um ícone tão americano como a Estátua da Liberdade, o homem que venceu Enzo Ferrari. Carroll Shelby.
Foi ele o primeiro a colocar um Ford FE V8 de 428 polegadas cúbicas, ou 7 litros, no chassis de um Ford Mustang, mas esta não foi a sua primeira escolha, uma vez que só adoptou estes motores a partir de 1967, dois anos após ter começado a trabalhar com o mítico Pony Car.

Nascia o Shelby GT500 de 67.


O motor deste carro descendia dos carros da polícia, e era por isso conhecido como "428 Police Interceptor", mas era modificado pela Shelby, de forma a produzir 355 cavalos bastante conservadores, 570 N m de torque, um tempo inferior a 5 segundos dos 0 aos 100 e uma velocidade de ponta de 214 km/h. Se o "quarter mile" é algo que vos interessa, não, não é um "ten-second car" como no Velocidade Furiosa, mas está perto, nos 13,6 segundos, o que para um carro de estrada de 1967 é mesmo muito bom. Caramba, é mesmo bom agora, em 2015.



Recordo ainda que este carro não conta com superchargers, turbos, ou injecção electrónica. A caixa de velocidades era manual com 4 velocidades ou automática com 3. Felizmente, todo aquele peso do motor é aliviado por uma direcção assistida, porque (e volto a ter de bater na mesma tecla) os carros americanos são muito mais evoluídos do que os europeus têm noção. E para os que têm, e já acham este carro o mais cool possível, garanto que era mais cool ainda. Jim Morrisson tinha um.

Não admira que Memphis Raines gostasse tanto da sua "Eleanor".

Mas a história do GT500 de 67 não acaba aqui, porque aos olhos de Carroll Shelby, tudo isto era pouco, portanto toca a fazer o Super Snake, com um 427 de corrida do GT40, 650 cavalos e ir atingir 270 km/h para testar os pneus novos da Goodyear. Apenas um Super Snake oficial foi construído, mas como estes motores ainda são integralmente feitos pela Edelbrock, é possível recriar a experiência com alguns milhares de euros. Ok, algumas dezenas de milhares de euros, porque carroçarias de Mustang Fastback de 1967 já não são baratas.



Entretanto, um senhor chamado Bob Tasca, dono de um stand da Ford e piloto de Drag Racing em part-time, decidiu fazer a mesma coisa que Shelby, mas com o único objectivo de dar cabo da Chevrolet nas pistas. O resultado foi o Mustang Cobra Jet, de 1968, que usava o mesmo V8 428 como base, mas modificado com elementos do 427 de corrida, o que resultava num motor fiável e equilibrado para o uso diário, mas muito potente. Quão potente? 410 cavalos potente. Para enganar as seguradoras era anunciado como tendo "apenas" 355, mas produzia garantidamente mais. Há até rumores de que chegasse mais perto da ordem dos 500cv...


Este modelo foi comercializado oficialmente pela Ford, e o motor Cobra Jet foi adoptado pelo próprio Shelby Mustang de 1968, um carro com uma frente menos elegante do que o modelo do ano anterior, mas que também existia em descapotável, o que é sempre fixe.



Foram também estudadas versões coupé "notchback", como o famoso Green Hornet, mas o mais próximo que houve destes carros em produção foram os Mustang GT California Special.

A partir de 1969 já a popularidade destes motores era outra e nasceu mesmo a besta Boss 429, que serviu basicamente para homologar um motor para a NASCAR, mas o 428 continuou a ser produzido e utilizado em vários Mustangs e outros modelos da Ford e Mercury. Este foi simplesmente o início de uma bela história de amor.



Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
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