Star Cars

O carro de que vou falar hoje já estava na lista de espera há algumas semanas, porque eu sabia que ia ser complicado encontrar as imagens que queria, assim como as informações correctas acerca da sua performance.

E que surpresa, não encontrei, mas decidi avançar com o artigo na mesma.

A razão pela qual não é muito fácil encontrar informação sobre este carro é o facto de ele ser feito de propósito para o filme onde entrou, e ainda por cima representar um carro de corrida. Felizmente foi fornecido aos estúdios por uma construtora oficial, o que à partida significa que tinha as mesmas especificações que os verdadeiros.

Sem mais rodeios, vamos visitar o Chevy Lumina Stock Car de "Dias de Tempestade".

Na vida real, este carro foi extremamente celebrizado por Dale Earnhardt, também conhecido como "The Intimidator", um dos melhores pilotos de NASCAR de sempre.

No filme, o personagem de Rowdy Burns era relativamente baseado em Earnhardt, com o carro preto e tal, enquanto Cole Trickle, o personagem de Tom Cruise, era baseado em Tim Richmond, outro grande piloto, um pouco mais "yuppie", detentor de um majestoso bigode, falecido em 1989, vítima de SIDA, com apenas 34 anos. O seu trágico final não é adoptado para a história do filme, que se concentra mais nas corridas e no romance entre Tom Cruise e Nicole Kidman, que se viriam a tornar num casal na vida real.

No início da história, Cole Trickle faz uma "audição" num stock car, para se descobrir se servia para a NASCAR ou se teria de voltar para a Fórmula Indy. O problema foi que o carro usado era precisamente o de Rowdy Burns, e Trickle bateu logo o tempo da sua volta. Isto criou a rivalidade para o resto do filme.

Então surge o Chevy Lumina número 46, com patrocínio da City Chevrolet, um stand automóvel, construído pelo personagem de Robert Duvall, e pilotado por Trickle, que demorou um pouco a ambientar-se a ele durante uma corrida inteira. Se há uma razão excepcional para ver este filme é esta parte, faz qualquer gajo que tenha a mania que conduz (tipo certos e determinados cronistas do Vício dos Carros) se recordar do seu percurso inicial atrás do volante, até começar a acertar com algumas coisas. É pura diversão.

Finalmente, após ganhar uma corrida, a equipa de Cole Trickle ganha um novo patrocinador, e o Chevy é pintado de cor de rosa.

Após algumas reviravoltas e eventos cruciais no filme, Tom Cruise acaba por voltar a conduzir o carro de Rowdy, já com um novo patrocínio, em Indianápolis. The End. Já o Chevy Lumina na vida real era tudo menos um Chevy Lumina, como acontece há muitos anos na NASCAR (e em cada vez mais formas de desporto automóvel), contava com um small-block V8 a carburadores que produzia cerca de 700 cavalos, atingia 320 km/h, pesava 1590 kg e era operado por uma caixa manual de 4 velocidades ligada às rodas traseiras. Pouco mudou desde 1990 para agora nesse sentido.

Este carro continua a ser uma referência para mim, mesmo sendo um maior adepto dos Ford Thunderbird, e o filme é um enorme pedaço da minha educação, e tem o mérito de ser tão bem realizado, que nos faz acreditar que a NASCAR é um desporto interessante de se ver, até vermos mesmo uma corrida. É de facto curioso que os americanos não tenham paciência para o futebol por ser demasiado tempo à espera de um golo, quando este, que é o desporto-rei do seu país, é precisamente estar demasiado tempo à espera de um acidente. Felizmente há este filme.

Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros