Crónicas de um Viciado
- Helder Teixeira
- 11 de jun. de 2015
- 2 min de leitura
Hoje tive de tomar uma decisão delicada em relação ao carro do qual iria falar. Por um lado, queria falar de um Fiat, porque não creio que o tenha feito desde que escrevo para o Vício, mas por outro, estava com vontade de falar de um Muscle Car.
O equilíbrio que consegui encontrar foi este, o Fiat 131 Abarth.

Tendo em conta que o estereotipo do Muscle Car é haver um V8 debixo do capôt, este carro não se qualificaria, uma vez que só conta com metade dos cilindros, mas de resto tem tudo, incluindo a potência.

O 131 Abarth era vendido em cores vivas, tinha uma carroçaria de duas portas, enormes alargamentos nas cavas das rodas, uma brutal entrada de ar no capôt, um motor montado à frente, longitudinalmente, uma caixa manual de 5 velocidades e um tubo que a ligava ao diferencial autoblocante das rodas traseiras. A meu ver, isto são todos os ingredientes necessários para uma receita de Muscle Car à italiana.


Só que não. O que levou realmente a Fiat a vender uma coisa destas foi a necessidade de homologar o 131 para rally. Ah, bolas, os carros de rally e os Muscle Cars são danados de distinguir.

Bem, nesta altura realmente havia semelhanças, recordo os excelentíssimos membros do júri que o Fiat 131 pertence à época pré-Audi Quattro, e que nessa altura quase todos os carros de rally tinham tracção traseira, e os que não tinham, era por terem tracção dianteira, ainda não havia cá 4x4 para ninguém.

Em Portugal este carro continua a trazer boas recordações e sorrisos às pessoas, graças a um senhor chamado Markku Alén, que deu bastante espectáculo com ele no WRC, durante uns bons anos, tendo-o mesmo levado à vitória algumas vezes no Rally de Portugal.

Até a Polícia de Segurança Pública adoptou o 131.

E quando há pouco disse que a potência deste Fiat também era digna de um Muscle Car, não estava a exagerar, o seu motor de 2 litros atmosférico produzia 140 cavalos na versão de estrada, e mais 100 nos carros de corrida. Isto nos anos 70.

O problema é que nunca mais houve, e lamentavelmente nunca mais haverá, um Fiat assim, porque aquilo que tornava o 131 Abarth num carro muito bom, era o facto de ser baseado num carro muito bom, que na altura era normal, mas que agora já quase não existe. Quantas berlinas familiares de tracção traseira ainda há à venda no mercado? Não enchem os dedos de uma mão, e mesmo essas cada vez mais adoptam sistemas de tracção integral. Eu nem consigo imaginar um Fiat moderno de tracção traseira, quanto mais uma versão louca como esta.


Hoje em dia não se vendem carros para homologar versões de corrida, cada um faz o que quer e o comprador de carros fica com um hatchback de tracção dianteira e alguns kits desportivos que qualquer modelo a gasóleo também pode trazer.

O Fiat 131 Abarth e tudo aquilo que ele representa, são relíquias.




Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
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