Lendas do Padock - Peugeot 205 T16
- Ruben Teixeira
- 17 de mar. de 2015
- 4 min de leitura
Já à 2 ou 3 semanas que andava a falar sobre escrever sobre o Peugeot 205 T16, mas só hoje é que abriu-se a oportunidade. Que dizer deste pequeno francês? O 205 normal já é dos carros que mais variantes desportivas teve: GT GTI, Rally, XS... E até esses ainda hoje são vistos a correr em provas por toda a Europa. Já o poderoso T16 teve uma vida mais curta, mas muito vivida.

Mal lançaram o 205, a Peugeot anunciou que pretendiam entrar no Grupo B e que o projecto iria ser liderado pelo experiente navegador Jean Todt, agora virado team manager. Como vimos mais tarde aos comandos da Ferrari na Formula 1, o pequeno francês é um homem astuto e que sabe o que faz.
O regulamento é analisado atentamente e a Peugeot chega à conclusão de que a melhor solução técnica para atacar o titulo seria combinar o que a Renault fez com o R5 e instalar o motor a meio para equilibrio de chassis e motricidade, e usar o esquema de tracção às 4 rodas do Audi Quattro.

Isso obriga a alterar profundamente a estrutura base do 205 e para isso a Peugeot recorre ao carroçador Heuliez para o trabalho de "corte-e-cose": o chassis do 205 é cortado e só aproveita-se o que resta entre o pilar A e o B, levando estruturas tubulares em aço à frente e atrás para suportar as suspensões e grupo motriz.
O motor é um "frankenstein" pois usa o bloco XUD7 diesel de 1769cc e que era convertido a gasolina com uma cabeça de dupla árvore de cames e 16 válvulas que ao contrário do que se pensa, nao é a do GTI, mas sim feita de raiz para o T16. Todos os componentes internos eram especificos. Era sobrealimentado via turbo com intercooler.

A caixa era a do Citroen SM acopolada a um diferencial central viscoso que repartida entre os dois eixos. Originalmente a divisão era fixa a 50:50 pelos dois, mas possivel de afinar através da mudança das relações de diferencial para favorecer o eixo traseiro ou dianteiro, ao contrário do que depois veio a surgir com os Integrale e Celicas que vieram substituir os Grupo que conseguiam variar a potência por definição sem ter de abrir diferenciais. O que também não tinham era a possibilidade de "desenbraiar" o eixo traseiro ao puxar o travão de mão, por isso é que se forem ver videos dos Grupo B no Youtube a fazer ganchos, vêm os 037, Mantas e 240RS a puxarem o travão de mão e calcarem a embraiagem nos ganchos, os Delta S4, Quattro e 205 fazem os ganchos direitinhos sem derrapar, porque as rodas traseiras estão ligadas às da frente pela transmissão, o ao irem à embraiagem, tiram potência aos dois eixos.
A cobrir tudo isto estava uma carroçaria de fibra de vidro, carbono e kevlar, que alargava em muito o 205, e que apesar do look musculado não perdia nada do aspecto do 205.

O T16 foi o pioneiro na aerodinamica nos rallies, com algumas versões a terem umas asas à frente e atrás de fazer inveja a um F16.
Um conceito tão bem pensado não teve problemas em dar uma lição à concorrencia. Homologado a 1 de Abril de 1984, pelo Rally da Finlandia (na altura o 1000 Lagos) de 1985, já era campeão do Mundo com Timmo Salonen. Não teve concorrencia digna desse nome durante esse periodo, até surgir a Lancia com o semelhante Delta S4, que levava o mesmo conceito de carro compacto com motor a meio e tracção às 4 mais longe, com mais potencia e mais tecnologia.

Depois sucede o que nós já sabemos: uma sucessão de acidentes, com os mais graves sendo o do Rally de Portugal de 1986 e a morte de Henri Toivonen pouco depois ao volante do Delta S4.
O 205 T16 ficou assim "desempregado" e teve de recorrer a biscatadas.
A primeira foi ir aos "States" onde na altura a Peugeot vendia ainda automóveis, o 405 e o 505 e precisava de uma estrela para aumentar as vendas. A única prova que se adequava ao talento do T16 era a subida de Pikes Peak, na altura ainda 100% em terra batida. Também a Audi lá estava e já tinham topado o truque da Peugeot de usar o ar para colar o carro à estrada e o Quattro S1 deles estava carregado de spoilers e splitters. Isso e o facto do 5 cilindros da Audi ser incomparável em termos de produção de cavalos fez com que os carros alemães fossem os mais rápidos até ao topo. Nem mandar vir de Concorde umas asas especiais à última da hora de França para o dia da prova ajudou a Peugeot, e no fim a vitória foi para os meninos dos 4 aneís. Só quando alongaram o 205 T16 e vestiram-no 405 é que conseguiram levar a vitória em Pikes Peak.


Outro sitio onde deu cartas foi nos Rally-Raids e na prova rainha da categoria, o Paris-Dakar. O 205 T16 foi talvez que mais fez pela popularização da prova a nível mundial, com o sempre fiél Ari Vatanen ao volante. A Peugeot gostava tanto do 205 T16 que mesmo depois de usar a sua evolução o 405 T16 no Dakar, ainda o levava para lá simultaneamente, correndo com os dois carros até 1990.


O projecto iniciado com o 205 T16 evoluiu até aos Citroen ZX Rally Raid e ainda serviu de base a alguns protótipos de super-desportivos. Mesmo sem o T16 o 205 iria sempre ser lembrado pelas performances dos GTI e Rallyes de estrada e de competição, mas a versão de grupo B elevou este modelo ao Olimpo dos automóveis. Nem o excelente 206 WRC foi capaz de o apagar da memória dos fãs dos rallies, e julgo que nunca haverá outro Peugeot que o faça...
Ruben Teixeira, no vicio dos carros





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