Crónicas de um Viciado
- Helder Teixeira
- 5 de mar. de 2015
- 3 min de leitura
A Volvo é a única marca de carros do mundo cujas carrinhas me conseguem seduzir mais do que os carros. Literalmente, podem vir com as carrinhas Audi RS isto ou aquilo, com as Alfa 159 TI, as BMW M5, as Mercedes E AMG, que eu vou sempre preferir os sedans. Sempre. Menos com a Volvo.
Mas nem todos os Volvos são mais belos em carrinha a meu ver, os novos S60 são lindíssimos, e na altura dos 740/760, as berlinas também faziam mais o meu estilo do que as suas variantes de 5 portas. O mesmo acontece com o incrível Amazon, mas por outro lado, entre o P1800 e a sua versão shooting brake, o 1800ES, já prefiro o último.
Há um modelo no entanto cuja carrinha me apaixona desde que me lembro: o 850.

Numa altura em que o mundo todo (com excepção daqueles loucos Alemães e Australianos) se converteu para a tracção dianteira, a Volvo seguiu a tendência, colocando um ponto final nas máquinas de fazer drift suecas que hoje em dia se compram tão baratas nos sites de usados. Mas, ao contrário de muitas marcas que só souberam fazer porcaria (porque fica feio dizer merda. Ops, merda) com esta nova configuração, a Volvo fez um dos melhores veículos da história do Planeta Terra. Possivelmente arredores.


Está certo que se compararmos o comportamento em curva de um Volvo 850 a outros carros de tracção dianteira mais evoluídos, como um Honda Integra Type R, um Alfa 156 GTA, um Ford Focus ST ou um Renault Mégane RS, a sensação vai ser deplorável, isto para nem falar dos pequenos hot hatches como os 205 GTI, Clio Williams, Saxo Cup ou 500 Abarth, mas os resultados talvez não desiludam assim tanto. Convido qualquer um a procurar vídeos de promoção ao Volvo 850 da sua época, ou na internet ou no caixote cheio de cassetes de vídeo com o "Rotações" gravado, que devem ter algures na arrecadação. O que vão encontrar é um carro surpreendentemente ágil a assapar que nem um doente por estradas em montanhas bem ao estilo das que encontramos em Trás-os-Montes, sem ponta de subviragem.

O que mais faz do 850 um dos melhores veículos da história do Planeta Terra e possivelmente arredores? Numa palavra: Power. A Volvo equipa os seus carros com motores tão potentes que chega a ser desagradável estacionar um e pegar noutro carro, a não ser que o outro carro seja um Porsche 911 ou um Ferrari 360, algo do género, vocês percebem a ideia. No caso específico do 850, destaco o 2.0 Turbo da GLT com 210 cavalos, o 2.3 Turbo da T-5 com 225cv e a sua evolução R com 250cv. O resto confesso que não considero relevante, porque, graças aos nossos impostos mediante cilindrada, são motores pelos quais pagamos o mesmo para andar mais devagar, e a minha mentalidade é demasiado hot rod para sequer conceber tal aberração. Também havia um 2.5 TDI da Audi, mas... não. Simplesmente não. Muito populares nestes carros são as conversões para GPL, não sei se continuam a fazer 0-100 na casa dos 7 segundos, mas consta que ficam bastante decentes, não opinarei porque nunca experimentei. É um pouco como a cocaína, se calhar vale mesmo a pena, só ainda não estou para aí virado.




Continuando este devaneio pela minha criação sueca de 4 rodas favorita (porque da Suécia vem muita coisa boa*), há um outro aspecto que coloca o 850 bem lá para cima no meu top de carros, a sua resistência. Não falo aqui da fiabilidade ou durabilidade porque isso são conceitos abstractos, com mais base em estatísticas e conversa de café do que engenharia e experiência. Falo sim da capacidade de aguentar porradinha da velha. O 850 era capaz de ser o único veículo do início ao fim de um filme com Bruce Willis ou Arnold Schwarzenegger no principal papel e continuar a andar nos créditos finais. Aliás, se o 850 fosse o personagem principal de um filme, seria com certeza Rocky Balboa. Já vi este carro a aguentar choques frontais, capotamentos, quedas de ravinas... E não falo apenas de ter um acidente e sair inteiro do carro, falo de ter um acidente e sair a conduzi-lo.
E como é um Volvo, é confortável e espaçoso.

Resumindo, este carro tem um título individual que eu gosto de atribuír a certos carros, na categoria de melhor carro de fuga de sempre. Independentemente daquilo que façamos e de quem possa vir atrás de nós, se tivermos um Volvo 850, temos boas probabilidades de escapar.
E andou no BTCC, mas isso é assunto para outro dia.

*IKEA. No que é que estavam a pensar?







Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
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