Lendas do Paddock: BMW M1
- Helder Teixeira
- 25 de fev. de 2015
- 4 min de leitura
BMW é um tema que eu tenho vindo a evitar desde que me convidaram a escrever uma crónica aqui no Vicio dos Carros. Acho que deveria evitar as minhas marcas favoritas e a BMW está no topo da lista. Detesto clubismos, bairrismos e fanboys, e odiaria tornar-me num. Normalmente são pessoas mesquinhas e com poucos conhecimentos verdadeiros sobre carros e dão cabo da marca que tanto afirmam amar. É esse tipo de pessoas que afasta-me de muitas marcas. Como não quero ser assim, fujo quando tenho de escrever algo da BMW.
Mas algum dia temos de enfrentar os nossos medos...

Numa marca com um historial tão rico e variado (Soou muito à lá fanboy? Desculpem, eu vou tentar conter-me...) é difícil escolher com que carro começar.
O M3 seria a primeira escolha, liderado pelo E30, mas decidi ir mais além e falar do M1.


O M1 tem uma história tortuosa. Como é sabido a BMW oficialmente queria competir, mas mudaram as regras e ficaram sem sitio para o M1 e decidiram criar o campeonato Procar... Mmm... Não sei, não...
Eles fizeram aquele protótipo Turbo, desenhado pelo Giorgetto Giorgiaro, que iria depois desenhar a versão de estrada, que seria o percursor do M1. Eu acho que eles queriam fazer um supercarro e foram apanhados pela crise energética de 1975 e decidiram reduzir o projecto ao minímo pois viram que já não seria rentável. Essa é a minha opinião, mas só quem lá esteve é que sabe ao certo. E também não interessa, estamos aqui para falar do M1 de corrida.


A base era um chassis tubular tipo "spaceframe" vestido por uma levissima carroçaria de fibra de vidro. Esta estrutura foi concebida e fabricada pela Lamborghini, mas como eles andavam pelas ruas da amargura e sem guito, e com credores à perna, a Lamborghini só fabricou 7 unidades. Outra lenda diz que com a Lamborghini com o Homem do Fraque atrás deles, a BMW teve de arrombar à escondidas as instalações italianas para ir buscar os projectos, moldes, mestras e afins de modo a completar o projecto. Pessoalmente é outra coisa que não acredito, julgo que a Lamborghini terá entregue de livre vontade.
Os carros seriam então concebidos pela Baur, famosa pelos seus BMW descapotáveis e a partir dai seriam concebidos os primeiros Grupo 4 para a época de 1979 do campeonato Procar.
Embora exteriormente os M1 de competição parecessem os M1 de estrada alargados, com um spoiler e asa ajustável, na verdade pouco partilhavam com a versão de estrada. A suspensão seria redesenhada, com barras estabilizadoras à frente e atrás, chassis reforçado e um motor com mais de 40% de potência sobre os 277cv da versão de estrada, e para o parar, sistema de travagem revisto, levando um regulador de pressão de travagem, comandado pelo piloto.


O bloco de 6 cilindros em linha e 3.5l denominado M88/2 seria acopolado a uma caixa ZF de 5 velocidades de modo a transmitir os seus 490cv às rodas traseiras. Este motor M88 é o verdadeiro coração da besta. Resultado da evolução feita pela BMW, Schnitzer e Alpina desde os finais da década de 60, entrando dentro da década de 70 com o coupé E9 e as variantes CSL, seguindo a evolução do bloco M06 de uma só árvore de cames e 12 válvulas (2 por cilindro x 6 cilindros) até que o recém-criado departamento M, cria uma cabeça de 4 válvulas por cilindro e dupla árvore de cames à cabeça para acompanhar a evolução do Ford Capri, o seu grande rival.

O Procar com tudo isto torna-se capaz de 0-100km/h em 4.3 segundos e 311km/h de velocidade de ponta, dependendo das relações de caixa.
A partir da década de 1981 a BMW consegue então homologar por completo o M1 para Grupo 5, e ao mesmo tempo decide entrar na Formula 1 com a Brabham, deixando o M1 de competição na mão de privados. E ai é que começa a festa. Muitos continuam a correr com eles em especificação Procar. A equipa francesa Oreca decide pegar num e meter o Bernard Beguin aos comandos, re-afinar o carro para rallies, com um motor com 430cv (o mais potente carro de rally no Mundo na altura) e especializá-lo em asfalto, mas a largura do carro na maioria das pequenas e sinuosas estradas onde corriam e a "bravura" do carro impede grandes resultados.



Entretanto que decide ir para o Grupo 5 aproveita o que a BMW tinha feito nos dois protótipos iniciais, e 2 turbos elevam a potência para algures entre os 750 e os 900cv, com chassis ainda mais evoluido, suspensões mais extremas e carroçarias sobre o efeito de estróides. Infelizmente nunca alcançou os grandes resultados que se esperava. Isto em conjunção com o titulo da BMW na Formula 1 e o sucesso estrondoso nos Turismos, fazem com que rápidamente o interesse no M1 desapareça.



Por mais triste que seja ter tido vida curta, pelo menos deixou-nos a memória das suas linhas espéctaculares, som magnifico (Youtube is your friend) e o legado de ter sido o pioneiro da familia M, e criando o caminho para o motor M30, M90, S38 e influenciar o S14 do M3. Só por isso valeu a pena saltar a vedação da Lamborghini...


Rúben Teixeira, no Vicio dos Carros
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