Crónicas de um viciado

Há um país no mundo que se podia considerar a capital dos Muscle Cars, tamanha é a cultura automóvel que nele emana, o amor pela gasolina, nalguns casos pelo étanol, o gosto por V8's e burnouts.

Exactamente, a Austrália.

Infelizmente, talvez pela geração Fast and Furious que surgiu, ou pela sua próximidade ao Japão, o mercado do carro australiano está a sufocar, os jovens largaram os V8's em prol de Nissans Silvia, o que vai levar ao fim da produção de modelos como o Holden Commodore e o Ford Falcon em 2016.

Sem nova geração, sem substituto. A sentença foi a morte.

Mas a Ford Australia não foi abaixo sem dar luta, e no final do ano passado lançou uma última obra, a última geração do Falcon, que, só por acaso, talvez seja o veículo mais brilhante à venda nos dias de hoje.

O Falcon FG X, uma berlina de tracção traseira, com um arraial de motores disponível, desde um 4 cilindros Ecoboost, ao V8 derivado do Coyote, passando pelos 6 cilindros turbo. Com caixa manual.

E já mencionei que também vem em pick-up?

A versão de topo, o XR8 (5.0 V8 supercharged) produz cerca de 450 cavalos, portanto não precisa de repros ou um intercooler maior para poder dar coças violentas aos Civics mais bravos que aparecerem na praça, ou aos tais Nissans, e sai mais barato do que comprar e modificar um, com um preço de 52.500 dólares australianos, o equivalente a cerca de 36.500€. A versão de topo...

Em Portugal isso nem compra um Focus ST.

Nada disto consegue salvar o Falcon no entanto, o carro caminha pelo corredor da morte a uma velocidade tão elevada como ele consegue atingir, e com fãs pobretainas a viver do outro lado do mundo como eu, dificilmente atingirá um número de vendas digno de algum dia sequer considerarem trazê-lo de volta. Muito menos digno da história que o modelo carrega.

Tenho pena, tenho genuinamente pena de ver a indústria automóvel num rumo tão deprimente como o que segue actualmente, com um número crescente de híbridos e eléctricos, coreanos demasiado caros e chineses demasiado baratos a invadirem as nossas ruas, pessoas decididas a explicarem-me que uma caixa robotizada traz diferenças fenomenais de fracções de segundo em relação às manuais, e toda a gente preocupada com a porcaria dos consumos, confundindo carros antigos com carros poluentes nas nossas capitais.

O resultado passa por situações destas, em que um veículo chega ao seu auge e é destruído. É o mesmo triste destino da Rover, da Saab, da Pontiac, da Lancia e, para o ano, da Ford Australia e da Holden. Sinceramente, não sei que futuro ou que porra de evolução é esta.

E falando em Evo, a Mitsubishi também o deixou morrer.

Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros