Star Cars

Com os Oscars à porta, sinto que faz sentido falar do carro que mais próximo está de receber tal distinção, se algum dia decidirem entregar Oscars a carros.

É o único veículo com direito a estar no passeio da fama de Hollywood, e quando entra num filme, costuma ter o papel principal.

Entrou em tantos filmes, que escolher apenas um para falar aqui seria impossível. Já foi carro de corrida, carro da polícia, carro de fuga, até já esteve dentro de prisões mais do que uma vez e sobreviveu ao apocalipse.

Com um currículo destes, torna-se evidente que estou a falar do lendário e incomparável Ford Mustang.

A carreira do Mustang no cinema começou muito cedo, ainda mal o carro tinha sido apresentado ao público, com o filme "007 Contra Goldfinger", de 1965. Tendo o carro sido lançado em meados de 1964, o veículo usado nas filmagens foi um modelo de pré-produção, fornecido pela própria Ford. Neste filme o seu papel foi secundário, indo o estrelato para o Aston Martin DB5 conduzido por Sean Connery, mas marcou o início da sua vida como estrela de cinema.

Após surgir em mais alguns filmes, o seu primeiro papel realmente notável (e, para muitos, a sua melhor interpretação de sempre) aconteceu em 1968 no filme "Bullitt". Ao comando do polícia mais cool de todos os tempos, interpretado por Steve McQueen, o Mustang Fastback GT-390 verde escuro do mesmo ano acelera pelas ruas de S. Francisco atrás de um Dodge Charger preto, passando por um número de Carochas iguais bastante considerável, enquanto o carro dos vilões distribuía tampões a cada curva. Aspectos cómicos à parte, até hoje esta perseguição é considerada uma das mais entusiasmantes de sempre, e cimentou o Mustang como estrela de cinema.

Alguns anos mais tarde, o Mustang voltou a encontrar-se com James Bond no filme "007 - Os Diamantes São Eternos", desta vez um Mach 1 vermelho de 1971. Este carro não só foi conduzido pelo famoso agente, como também protagonizou um dos erros cinematográficos mais épicos de sempre, quando entra num beco apertado sobre as suas duas rodas direitas e é visto sair do outro lado sobre as rodas esquerdas.

Três anos mais tarde, um outro modelo de 1971 (disfarçado do de 1973) foi utilizado em "Gone in 60 Seconds", de H.B. Halicki. Esta foi a primeira vez que o Mustang usou o nome Eleanor, assim como a única vez que teve direito a estar presente nos créditos finais de um filme.

Avançando para 1987, é importante referir o seu papel em "Cherry 2000", no qual Melanie Griffith conduz um modelo hardtop coupe modificado de 1965 pelos desertos pós-apocalípticos dos Estados Unidos, no longíquo ano de 2017.

Dois anos depois, um modelo igual, mas de série, é completamente restaurado por reclusos (e depois horrivelmente destruído) no filme "Lock Up", ou na sua bela tradução para português: "Stallone - Prisioneiro".

Já em 1995, o filho de Steve McQueen protagonizou um filme de, digamos, baixo orçamento, ao volante de um Mustang fastback de 67, bem ao estilo do pai, com a diferença de não ter criado nenhuma perseguição particularmente memorável no processo. De qualquer forma, se decidirem procurar esse filme, chama-se "Red Line" e está completo no Youtube. Tentar encontrá-lo em DVD será uma boa dor de cabeça.

Mas não tão boa como a de encontrar o próximo filme que vou referir. "Mustang" foi um telefilme português, da SIC, do ano 2000, que teve um Fox Body GT cabrio branco de 1987/93 no centro da sua história. Eu vi o filme ainda era puto e agora não o encontro em lado nenhum, nem a própria SIC me respondeu quando lhes perguntei onde o poderia arranjar. É realmente espantoso como se deixam pequenos tesouros destes cair no esquecimento.

Já o outro filme desse ano em que o Mustang teve protagonismo é outra história. O remake de "Gone in 60 Seconds", este já com um título em português, "60 Segundos", fez as delícias da minha juventude com a sua nova Eleanor, um Shelby Mustang GT-500 fastback de 1967 modificado especialmente para o filme. Sobre este nem sinto que seja necessário dizer muita coisa, toda a gente que gosta de carros o conhece e sabe quase todas as falas do filme de cor.

Em 2006, o Mustang de '67 voltou a protagonizar um filme em "Velocidade Furiosa: Ligação Tóquio", desta vez com uma grande diferença, o seu motor era de um Nissan Skyline. Apesar desse transplante fazer sentido no guião do filme, esta brincadeira irritou muitos fãs do célebre Pony Car. Felizmente, só um carro recebeu esse motor, a maior parte dos Mustangs usados para as filmagens mantiveram o V8, porque é simplesmente melhor.

2008 foi o ano em que o Mustang voltou à prisão, para as mãos competentes de Jason Statham em "Corrida Mortal". Neste filme, carros severamente modificados para aguentarem situações de combate eram usados por reclusos em corridas até à morte pela sua liberdade. O modelo usado foi um GT de 2006, apesar de as modificações não permitirem identificar exactamente o ano.

Em 2011, Ryan Gosling usa um Mustang GT desse mesmo ano como carro de fuga para um assalto no filme de culto "Drive". A presença do carro não é muito extensa, mas num filme que serve de hino a todos os filmes de carros, a escolha do Mustang foi perfeita.

Para acabar em grande, é de referir o filme do ano passado "Need For Speed", no qual um suposto último projecto de Carroll Shelby é conduzido pelos Estados Unidos fora durante a maior parte da película. O Mustang usado foi um GT de 2014 com um kit estético criado para o efeito, bem ao estilo da Eleanor de "60 Segundos".

Como bónus, fica aqui o Mustang de "O Caso Thomas Crown" de 1999.

"And the Oscar goes to..."

Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros