Crónicas de um Viciado
- Helder Teixeira
- 21 de jan. de 2015
- 3 min de leitura
Esta semana estamos a falar de carros japoneses aqui no Vício, e, no seguimento da apresentação de um novo Supercarro nipónico, decidi homenagear o antigo.
Era uma vez, numa terra muito distante, quando fabricar um carro ainda tinha mais arte do que ciência, uma marca com raízes nas duas rodas, que vinha a destacar-se no mundo automóvel por fabricar modelos fiáveis, económicos e relativamente rápidos, com a capacidade de atingir mais rotações por minuto do que o mundo estava habituado a ver.
Em 1984, essa marca decidiu criar um carro novo, encomendando à Pininfarina um protótipo para ser equipado com um motor central, com o objectivo de fazer frente à referência mundial de carros desportivos, a Ferrari. Nascia o concept HP-X.

Entretanto, a ideia ganhou forma, juntou-se uma equipa e foi criado um novo conceito, "New" (novo), "Sportscar" (carro desportivo), "Unknown" (desconhecido, representado matematicamente por X). Se a fotografia do carro ainda não tivesse estragado a surpresa, revelaria agora que estou a falar do Honda NSX.

Com a ajuda de uns pilotos de Fórmula 1, como Satoru Nakajima ou Ayrton Senna, o NSX foi desenvolvido para se portar bem em pista. Tipicamente associamos mais o carro a Senna, primeiro porque Senna é Senna, segundo, por causa dos vídeos em que o vemos a atirar o carro de um lado para o outro no circuito, como se estivesse a fazer algo tão mundano como ir ao supermercado. E é bem capaz de o ter feito algumas vezes ao volante do NSX, já que lhe foram oferecidos dois, um dos quais matriculado em Portugal, que foi vendido recentemente.


O produto final, já depois dos testes em Suzuka e Nurburgring, foi o primeiro carro de estrada com todo o chassis e carroçaria feitos em alumínio, equipado com um V6 de 3 litros a produzir 270 cavalos sem ajuda de turbos. A potência era transmitida para as rodas traseiras através de uma caixa manual de 5 velocidades. Foi lançado em 1990 e cimentou a reputação da Honda, assim como do próprio Japão, como criadores de automóveis dignos de aparecerem nos nossos sonhos.

Um carro que procurava referências na Ferrari, tornou-se a referência para todos os criadores de supercarros, devido à sua performance elevada associada à fiabilidade e praticalidade nunca antes vista neste tipo de veículos.
Durante 15 anos o NSX de primeira geração foi produzido, ganhando um motor maior, de 3.2 litros, uma caixa manual de 6 velocidades e uma automática de 4, um tejadilho removível estilo Targa, e perdendo os seus faróis retrácteis no decorrer da sua vida.





Venceu a categoria GT2 nas 24 Horas de Le Mans em 1995 e uma versão bastante modificada para encaixar nas regras do Super GT foi bastante bem sucedida nesse campeonato, mesmo depois do fim de produção da versão de estrada.


Há poucos dias, o seu substituto foi apresentado, um híbrido de motor central e tracção integral, com uma caixa sequencial de 9 velocidades. Tudo neste carro, desde a sua configuração ao seu desenho é um insulto ao original, uma má piada, um pesadelo para puristas ou pessoas com bom gosto no geral.

Para mim o NSX vai ser sempre o primeiro, o que decidiu bater a Ferrari no seu próprio jogo, o primeiro supercarro japonês e, até à data, o único.


Gonçalo Sampaio, no Vício dos Carros
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